O Símbolo Perdido: Mais do Mesmo!

Mais uma vez Robert Langdon cai de pára-quedas em meio a uma nova aventura. Mais uma vez essa aventura se desenrola sobre (e sob) a arquitetura de uma importante cidade. Mais uma vez existe uma sociedade secreta envolvida. Mais uma vez existe um vilão bizarro. Mais uma vez… bom, a lista de “coincidências” poderia se estender por uma página inteira, então é melhor deixar pra lá e resumir um pouco a história.

Depois de seis anos de silêncio, Dan Brown resolveu lançar seu quinto livro, O Símbolo Perdido, em setembro de 2009 (no Brasil em dezembro do mesmo ano). O protagonista deste novo thriller é novamente Robert Langdon, o mesmo “herói” de Anjos e Demônios e O Código Da Vinci. Dessa vez, porém, a história se passa longe do Renascimento Europeu, tendo como paisagem as ruas e palácios de Washington, a capital norte-americana.  Em vez do Louvre ou da Basílica de São Pedro, temos o Capitólio. Em vez do Priorado de Sião ou dos Illuminati, temos a Francomaçonaria. Em vez de teorias físicas, temos a teoria noética. Em vez de… ops, voltei novamente às “coincidências”. Mas o que dizer? Afinal o livro não passa disso: mais do mesmo!

Dessa vez Langdon tem de salvar a vida de um grande amigo, o maçom Peter Solomon, seqüestrado por um maníaco que acredita que a maçonaria esconde um segredo capaz de agraciá-lo com poderes divinos. De acordo com a lenda, esses poderes se escondem por trás de uma única Palavra secreta, tão antiga que seu próprio significado fora perdido com o passar dos milênios. Essa palavra, por sua vez, se encontra escondida por detrás de uma intrincada seqüência de códigos que envolvem todo o simbolismo maçônico presente na arquitetura de Washington, em ilustrações e quadros de grandes artistas europeus e americanos, além de estudos matemáticos de grandes cientistas como Newton e Franklin. A Maçonaria é, portanto, o principal foco do livro, e é dela que partem as principais teorias conspiratórias, já tão comuns nos livros de Brown.

Dessa vez, diferente das duas primeiras aventuras de Langdon, a narrativa se desenrola mais pela seqüência de fatos do que pelas curiosidades históricas e artísticas que a enredam. E não é difícil entender o porquê, afinal, por mais rico que seja o simbolismo, a arte e a história de Washington, elas não chegam nem perto da opulência Européia. Devido a isso, o autor parece ter invertido a seqüência comum presente nos seus quatro primeiros livros: em vez de aglomerar toda a informação relevante no início do livro e deixar que seu último quarto se arraste por uma enfadonha seqüência de pura ação – como eu bem já havia dito aqui e aqui – em O Símbolo Perdido Brown arrasta o leitor desde o início, mostrando pouca ou nenhuma informação importante, e só expõe claramente sua conspiração na parte final do livro.

Durante a aventura de Langdon, por muitas vezes o leitor parece ter um déjà vu com Nicolas Cage correndo por Washington no filme A Lenda do Tesouro Perdido. Mas ainda há coisa pior: a noética, uma ciência que estuda os poderes da mente. Pra quem não sabe, a Ciência Noética é a base do best-seller de auto-ajuda O Segredo, de Rhonda Byrne. E mais da metade de O Símbolo Perdido parece ser exatamente isso: uma cópia – talvez um pouco mais emocionante, é verdade – da auto-ajuda de Byrne.

Existe também o tradicional mistério, claro. Caso contrário Brown não conseguiria prender seus leitores por muito tempo. No entanto é muito fácil para um autor criar mistérios e grandes reviravoltas quando a técnica usada é a mentira. Sim, Dan Brown, em vez de esconder a verdade (como fez em seus demais livros – o que já é de uma pobreza fatal para a literatura do gênero), mente para seus leitores desde o início do livro. E é assim que cria a revelação final. Tudo o que o narrador onisciente conta no decorrer da história é por fim desmentido pelos personagens em suas últimas páginas.

E quando tudo se resolve e a aurora se aproxima, sem mais turbulências, eis que ainda restam dezenas de páginas. E daí pra frente é só noética.

Enquanto a ciência tentava ir contra a igreja em Anjos e Demônios, e a História desmentia a divindade de Cristo em O Código Da Vinci, em O Símbolo Perdido a Maçonaria tenta transformar o homem em um deus. Pelo menos há algo neste último livro que não coincide com os demais.

Título: O Símbolo Perdido (The Lost Simbol)
Autor: Dan Brown
País: Estados Unidos da América
Publicação Original: 2009
Publicação Lida: Sextante, 2009

4 respostas em “O Símbolo Perdido: Mais do Mesmo!

  1. Pô, concordo em parte Jão.
    Não passa realmente de “mais do mesmo”, mas quanto a mentira que você fala sobre o final eu não senti isso. Na verdade, acho que tá bem na cara desde o meio do livro, e acho que na verdade ele tenta esconder a verdade sim… mas muito mal! Livro fraco… muito fraco… Na minha opinião mais fraco que qualquer um anterior. E concordo piamente em um ponto: Washington não tem nem metade do que se precisa de ocultismo pra se fazer um triller desses… pelos menos não que Dan Brown saiba contar… Belo texto!

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  2. Ótima resenha!
    Sou obrigado a concordar com você, infelizmente…
    Eu me tornei fã de Dan Brown quando li O Código Da Vinci; achei bastante interessante e singular toda aquela mistura de informações, mitologias e teorias de conspiração. Não que eu tivesse acreditado naquilo, mas era um ótimo romance.
    Depois disso, li Ponto de Impacto, que até gostei também, por ser um cenário bem diferente do primeiro livro; foi como ir ao cinema assistir um bom blockbuster.
    Aí veio a grande decepção! Fortaleza Digital…
    Quando terminei de ler Fortaleza, foi como se eu tivesse acabado de ver um filme qualquer da Sessão da Tarde. Me decepcionei.
    Sobre O Símbolo, bom… O título do seu texto já diz tudo.

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