Chapulin – O Maior Herói Latino

Caixa ChapulinCriado, em 1970, pelo dramaturgo e ator mexicano Roberto Gomez Bolaños – eternizado por seu personagem El Chavo – o super-herói Chapulin Colorado possui, de maneira bem humorada, um teor caricato e crítico, totalmente contrário ao estereótipo padrão dos super-heróis lendários da TV, do Cinema e dos Quadrinhos. Fora feito para ser cômico, porém carregava consigo um discreto teor político que refletia aquele momento histórico vivido pelos mexicanos e, de modo geral, por toda a América Latina.

O Polegar Vermelho, como foi traduzido no Brasil, perdia em beleza, força e astúcia, porém ganhava em carisma e humildade. Não possuía uma identidade secreta. Chapulin era Chapulin todo o tempo, com seu uniforme vermelho, estampado com o símbolo universal do amor: um singelo coração amarelo.

A escolha do uniforme vermelho para o personagem Chapulin não fora premeditada. A emissora possuía em seu almoxarifado apenas quatro cores de tecido: preta, branca, azul e vermelha. Para Bolaños, o preto era extremamente negativo e triste, enquanto para os técnicos, o uso de branco e azul eram inadmissíveis – com o equipamento precário, o branco estourava a luz e ofuscava a imagem, enquanto o azul tornava inviável o uso do chromakey. Restava então o vermelho. O inusitado super-herói até então se chamaria El Chapulín Justo (O Gafanhoto Justiceiro, em tradução livre), porém, com o uniforme escarlate, surge o título “Colorado”, que em espanhol significa literalmente “vermelho”.

gafanhoto vermelhoOs chapulíns (palavra de origem nahuatl, o idioma asteca) são insetos comuns no México, usados inclusive na alimentação e dão nome a alguns lugares, como a colina Chapultepec (Colina do Gafanhoto), na região central da Cidade do México. Como Bolaños queria que seu herói fosse estritamente nacional, escolheu o inseto mais famoso do México para caracterizá-lo.

Talvez como uma paródia ao S do Superman americano, Bolaños acrescentou ao uniforme a inicial do personagem, a letra “che”. Em espanhol e em vários idiomas nativo-americanos, CH é considerado uma única letra. A letra “che”, diga-se de passagem, é a inicial de todos os personagens criados por Bolaños (Chabo, Chapatin, Chanfle, Charrito, Chompiras, Chaparron etc), a mesma inicial de seu apelido, Chesperito, o pequeno Shakespeare.

Chapulín Colorado trazia em suas histórias uma forte crítica ao imperialismo norte-americano, fazia piada dos vizinhos ricos e, de maneira caricata, abordava com frequência as influências externas na política latino-americana. O humor parece ingênuo, mas suas esquetes possuem um quê político e uma identidade tal, que transformou o atrapalhado Gafanhoto Vermelho no grande herói de toda a América Latina.

Não à toa, Chapulin possui várias referências à cultura e à história norte-americana, tratando-a sempre de maneira caricata, como em seus episódios sobre o Velho Oeste, a Guerra Civil Americana ou fazendo referência a clássicos filmes de Hollywood.

Enquanto as grandes editoras norte-americanas de quadrinhos – a DC Comics e a Marvel – dão ao público que a ideia de que ser um herói é algo inatingível e extraordinário, Bolaños aponta para o outro lado. A história de Chapulin é diferente de histórias onde os personagens, às vezes, possuem poderes para destruir todo o planeta e uma inteligência descomunal capaz de criar armas e veículos incompreensíveis ao leitor, além de enfrentar inimigos igualmente grandiosos. O pequeno gafanhoto vermelho é mais humilde e pau pra toda obra. Ele surge não apenas para enfrentar vilões, mas também para solucionar problemas cotidianos, como dar conselhos ao garotinho mimado que mente para os pais, resolver a situação de um casal que pode ser despejado por não pagar o aluguel, proteger um hotel da possível invasão de um criminoso, entre outras situações tão comuns para quaisquer cidadãos.

Os episódios em que o personagem Super Sam (interpretado por Ramón Valdez) entra em cena são, com certeza, os que possuem as críticas mais explícitas. Super Sam é uma paródia do ícone estadunidense, o Tio Sam. O personagem usa a roupa do Superman e uma cartola com as cores norte-americanas; tem como arma dois sacos de dinheiro e seu bordão de vitória é chavão de Wall Street: “Time is Money, oh yeah!” A maior curiosidade, porém, é que ele aparece sem ser chamado. Os personagens em perigo esperam por Chapulin e se decepcionam ao ver Super Sam, que está pronto para resolver problemas à sua maneira, unilateralmente, numa explícita referência à política externa dos Estados Unidos.

Chapolin1Enquanto Superman, Capitão América, Homem-Aranha e alguns outros possuem as cores da Revolução Francesa e do Sonho Americano, Chapulin Colorado traz consigo o vermelho da revolução latino-americana, mesmo que seu uniforme tenha sido composto ao acaso da necessidade. Enquanto os heróis da Marvel e DC se distanciam dos reles mortais, tornando-se cada vez mais poderosos, Chapulin Colorado poderia ser qualquer um de nós: um homem comum, cujo maior poder é a honestidade e a boa vontade em ajudar.

A verdade é que o personagem criado por Bolaños foi o último grande herói do mundo. Depois dele, não houveram outros. Homem-Aranha, X-men, Homem de Ferro, Capitão América, Batman e Superman surgiram entre 1938 e 1963. Chapulin foi criado em 1970, possui apenas algumas poucas histórias, compostas há mais de 40 anos, que nunca foram renovadas e que ainda hoje fazem sucesso na TV de dezenas de países. O mundo realmente não contava com sua astúcia!

Leia também o “Adeus, Chespirito…“.

O Boicote à Globo e os Revolucionários de Mesa de Bar

“A Globo mente”, “a Globo manipula”, “a Globo aliena”, “a Globo não presta”… essas e outras frases tornaram-se comuns de uns tempos para cá na internet. É fácil ver pessoas usando as redes sociais para exporem suas revoltas contra a Rede Globo, a TV aberta brasileira ou as mídias de massa em geral. Entra ano, sai ano e o discurso dos revolucionários de mesa de bar é sempre o mesmo: “eu não assisto TV aberta por N fatores!” E assim se vangloriam, se colocam acima dos demais, como se, ao negar este passa-tempo, estivessem realmente fazendo um bem à sociedade ou à si mesmos. E, diante de tantos problemas no país, eis que surge, na última semana, uma inocente (para não dizer ‘ignorante’) campanha de boicote à Rede Globo. E coloca inocente nisso!

Que a TV é cheia de inutilidades, isso não dá para negar. Realmente existem programas horríveis, baixaria, imoralidades, promiscuidades, jornalismo tendencioso e diversos outros defeitos. Mas onde não encontrar tais problemas? A literatura, a rádio, o cinema e, principalmente, a internet estão cheios de coisas deste tipo. Temas, aliás, que sempre existiram e sempre existirão, independente da época, do lugar, ou da mídia predominante. Caberá sempre ao espectador/usuário escolher.

Eis que, diante da última polêmica da TV, o suposto estupro do Big Brother Brasil – que, diga-se de passagem, não contou com acusação da própria vítima – alguns internautas se mobilizaram e começaram uma campanha para boicotar a Rede Globo. E daí surge a pergunta: porque somente a Globo? Não, a intenção aqui não é defender a Globo, mas abranger horizontes e apontar erros, tanto da tal campanha quanto dos pseudo-revolucionários que a criaram ou que a ela aderiram ignorantemente.

Mas, antes de mostrar o porquê da inocência da campanha, vamos esclarecer alguns fatos que os militantes anti-TV parecem desconhecer.

A TV brasileira – já uma senhora de 62 anos, muito mais velha que as de muitos países europeus, asiáticos e latino-americanos – é considerada uma das melhores do mundo. Não, não é exagero. Nossas produções dramatúrgicas são as mais premiadas lá fora; nossas séries telejornalísticas são indicadas em diversos festivais ao redor do globo; e até nossa publicidade é líder nos festivais lá de fora.

Mesmo assim, ouve-se por aí que a TV aberta no Brasil “não presta”. Então fica a pergunta: a TV fechada “presta”? Canais como NatGeo, Discovery e History Channel passam documentários extremamente tendenciosos e sensacionalistas sobre alienígenas, apocalipses, maçonaria, Illuminatis modernos e diversas outras babaquices, apresentando-se, cada qual, como se fosse a verdade absoluta! Até mesmo programas sobre História, como alguns da Segunda Guerra, abordam vieses absurdos que, com um mínimo de senso crítico, são facilmente rebatidos. E se nossas novelas são alienadoras e inúteis, o que são os enlatados americanos da Fox, Warner, Sony ou Universal? Com certeza são de cunho altamente moral e cultural e totalmente compatíveis com a nossa realidade, não?

E se a nossa TV é tão ruim assim, o que dizer das emissoras lá de fora? Possuem a mesma programação e o mesmo estilo. Caso não saibam, nenhum dos atuais reality shows – BBB, Lar Doce Lar, Lata Velha, Acorrentados, A Fazenda etc – são criações brasileiras. Todos são programas importados ou copiados. Alguns da Europa, outros dos EUA. Até mesmo as mais clássicas atrações do genial Silvio Santos são cópias exatas de velhos programas norte-americanos, como Roda a Roda, Show do Milhão, Topa ou não Topa, Qual é a Música… Ou seja, lá fora têm a mesma programação que temos aqui.

Outro argumento usado é o jornalismo tendencioso e, por muitas vezes, mentiroso. Dois erros não fazem um acerto, no entanto desde que Gutenberg criou a prensa, os jornalistas publicam apenas aquilo que lhes convém! Não apenas a imprensa televisiva, mas também a radiofônica e a digital são tendenciosas. Tendo as TVs abertas uma concessão pública para se manterem no ar, acham mesmo que elas iriam desagradar os governantes, os mesmos que detêm o poder de cortar-lhes o sinal? Dizer que mentem é difícil, mas é certo que omitem muito daquilo que lhes convém. Suas existências dependem disso, seja Globo ou SBT, Record, Band ou RedeTV!. Agora, voltando àqueles que dizem não assistir TV aberta: que telejornalismo devem assistir entre os canais fechados? Record News? Band News? Globo News? Não, não há ingenuidade nestas perguntas, pois já é fato sabido que muitos responderão buscar informações na internet. Talvez no G1 ou no R7.

Alguns dizem que a TV aliena, que a programação sem conteúdo satisfatório amolece o cérebro e impede que o telespectador desenvolva o pensamento. Ora, quem não está com a TV ligada, está passando o tempo onde? No Facebook, com seus milhões de Luizas que estão no Canadá? Ou no Twitter, divulgando inutilmente suas opiniões e pensando fazer uma revolução só porque colocaram uma hashtag no topo da lista de discussões? Se a TV inibe o pensamento, as redes sociais geram pensamentos inúteis.

Pois bem, dada essa rápida resolução, voltemos à focar na campanha citada inicialmente e à pergunta: porque a Globo? Se há conteúdo de má qualidade em todos os setores e mídias e, mesmo tendo escolha, o povo sempre busca as inutilidades, porque é sempre a Globo que é pega para Cristo e condenada acima das demais? Estas perguntas são extremamente pertinentes diante de programas como Pânico e Brothers (RedeTV!), Domingo Legal, Ratinho e os extintos Sabadão e Cockteil (SBT), A Fazenda e Gugu (Record) e Brasil Urgente (Band). Então, alguém sabe responder porque o ódio à Globo se destaca?

Outro ponto importante e que poucos parecem conhecer é com relação ao decreto de 1963 (que se tornou lei com a constituição de 1988), que exige que toda a operadora de radiodifusão do país tenha, no mínimo, 5% de sua programação voltada para cultura, informação e educação. Vocês sabiam, caros revolucionários, que todas as emissoras burlam esta lei, aproveitando de suas brechas e colocando no ar apenas noticiários, não importando se são tendenciosos ou sensacionalistas? Das 5 grandes emissoras abertas no Brasil, a Globo é a única que cumpre a lei, colocando no ar programas como Globo Universidade, Globo Ciência, Globo Ecologia, Ação, Globo Rural e Tele Curso 2000, além das pequenas e constantes inserções das séries Sagrado, Globo Amazônia e Se Liga Brasil, feitas em parceria com o Canal Futura (que também pertence às Organizações Globo). Algum de vocês já assistiu  a programas deste tipo na Record, no SBT, na Band ou na RedeTV!?

A Pedra do Reino

E se ainda cabe uma defesa aberta à Rede Globo – contrariando aqueles que vêem apenas futilidades e inutilidades em sua programação – é preciso que se diga: em que outra emissora vê-se adaptações da literatura feitas com maestria, como O Auto da Compadecida, A Pedra do Reino, Os Maias e Memorial de Maria Moura? Ou ainda os premiadíssimos Hoje é Dia de Maria e Capitu?

Mesmo assim, a campanha contra a Globo (e somente contra a Globo) aconteceu durante toda a última semana e agendou o boicote para o dia 25 de janeiro, quarta-feira. O resultado foi óbvio: a campanha falhou! De acordo com os índices do Ibope, a média de audiência da Globo nesse dia foi de 15 pontos, o mesmo valor da terça-feira. Um movimento inútil entre os internautas e de extrema inocência, como já foi dito no início deste texto.

De acordo com dados do IBGE, apenas 35% da população brasileira possui acesso à internet, enquanto 95% dos domicílios possuem aparelho de TV. Agora, vamos deduzir quanto destes usuários de internet realmente sabem navegar e/ou participar das redes sociais: chutando alto, pode-se dizer que metade, ou seja, apenas cerca de 17,5%. Mesmo se todos estes aderissem ao boicote, isso sequer faria cócegas na audiência da TV aberta. Eis aí a inocência dos criadores da campanha. Ainda pode-se arriscar dizer que aqueles que aderiram ao boicote e não ligaram a TV na Globo no dia 25 de janeiro, foram apenas aqueles que normalmente já não assistem TV.

Hoje é Dia de Maria

Dizem que a facilidade de se conseguir informação e disseminar opinião nunca foi tão grande em toda a História. Difícil é entender que isso não é verdade. A internet não é um veículo de massa (ainda) e está longe de refletir a opinião do povo como um todo. É claro que, usando da rede, pode-se fazer estardalhaço e dar muita dor de cabeça a muita gente. Mas é só. Não mais que isso. E se você pensa que ataques a servidores do governo (como a guerra anti-SOPA) realmente resolvem algo, acredite, você está ledamente enganado. Como foi dito: cria-se muita dor de cabeça, nada mais.

O que o público insatisfeito com a programação deve saber é que a TV não controla sua programação. Quem controla a programação é o próprio público. A audiência é quem escolhe o que estará ou não no ar. Uma audiência ignorante clamará por programação ignorante. Se querem mesmo culpar alguém pelos males da nossa TV, culpem a parca educação deste país!

Agradecimentos ao Ígor, administrador do site Todo Canal, que gentilmente cedeu as informações sobre os índices de audiência desta semana.

Documentário – “História do Hip Hop” (Assista)

O ano era 2007. Eu acabara de entrar para a faculdade, acabara de deixar minhas Minas e me mudar para São Paulo. Ainda não conhecia ninguém, estava começando a descobrir o mundo novo da universidade, da comunicação, da TV, do rádio e do cinema. Enfim, estava completamente perdido!

Já no primeiro período do curso, o professor de Antropologia nos pediu um trabalho de pesquisa que teria por tema “A História do Hip Hop”. Um trabalho que poderia ser apresentado como quiséssemos, desde que atendesse aos pedidos feitos pelo professor. Todos os outros grupos (que tiveram por tema o break, o rap, a moda hip hop e a linguagem e suas gírias) aprensetaram de maneira tradicional, usando slides, discursos e levando convidados para debater o tema em sala de aula.

Meu grupo, no entanto, se amalucou e um colega disse: “se nosso curso é de rádio e TV, porque não fazer um vídeo então?” Pronto, estava feito o desafio. Mas como, se a faculdade não liberava equipamentos para alunos recém chegados? Como, se não tínhamos experiência alguma com vídeo, roteiro, câmeras e tudo o mais? E a resposta foi: “vamos fazendo. Se não der, passamos para o papel tudo o que conseguirmos e apresentamos da maneira tradicional.” Afinal já teríamos a pesquisa feita.

Pois bem, foi o que fizemos! Conseguimos uma câmera Hi8 emprestada com uma colega, um microfone bem tosquinho com outro colega e fomos à luta! Foi, portanto, a minha primeira produção audiovisual.

Ao fim pensamos que o resultado do vídeo era suficiente para ser apresentado, mesmo o áudio estando baixo e a imagem com uma baixissíma qualidade. Chegamos na sala com um DVD e colocamos para rodar, sem dizer mais nada, deixando que o vídeo falasse por si. Houve silêncio durante toda a apresentação e logo após, salvo as crítias têcnicas que já citei, recebemos o seguinte elogio do professor, o então Mestre Alfredo d’Almeida: “Há quatro anos ministrando esse mesmo trabalho, esse foi o melhor que já vi!”

Hoje eu assisto ao documentário e não acho nada de mais, e ainda encontro vários defeitos. Mesmo assim, é um doc do qual tenho orgulho em dizer que fiz. E agora, 4 anos depois de ser feito e apresentado, divulgo ele na internet, com exclusividade no Covil (e no meu canal do YouTube):

 

Como nos créditos têm apenas o nome dos integrantes do meu grupo, deixo abaixo algumas especificações sobre o o curta.

Produção:
LETÍCIA CAVALCANTE
J. V. V. B. MILITANI (Eu)
MARIANA VELOSO

Câmeras:
DANIEL ELEUTÉRIO
J. V. V. B. MILITANI (Eu)

Edição:
DANIEL ELEUTÉRIO

dentre outros…

Agradecimentos Especiais:
CASA DO HIP HOP DE DIADEMA
KING NINO BROWN
NELSON TRIUNFO
LEVI

Agradecimentos:
CASPER
MC VELOKO
E todo o pessoal da ZULU NATION e da CASA DO HIP HOP!

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO – 2007

Post Scriptum – Do Projeto à Conclusão (e mais o Trailer)

Só quem já escalou uma montanha sabe como é grandiosa a sensação de se chegar ao cume, mesmo que lá em cima não tenha nada. Após quatro anos de faculdade, eis que também chego ao cume, no ápice do curso, o momento final que separa o estudante do profissional! E para a conclusão desses quatro anos, apresentei na última quinta-feira, dia 25, o nosso trabalho derradeiro, o último, que vem sendo desenvolvido desde agosto do ano passado: Post Scriptum, a série!

Há um ano e meio minha equipe e eu estamos trabalhando duro, em diversas áreas, para realizar um trabalho desafiador e que, por muitas vezes, parecia estar além das nossas capacidades. No início foram apenas pesquisas – passeios históricos pela Literatura, o Cinema, o Teatro, as Histórias em Quadrinhos, a TV e por diversos jornais e revistas, acumulando todo o conhecimento possível sobre uma peculiar e consagrada criatura mística que a todos seduz com grande facilidade: o Vampiro! Da Grécia Antiga ao Brasil Moderno, passando pela China e pelos vampiros Andinos; de Polidori a Stephani Meyer, passando por Stoker e Rice; do expressionismo alemão, passando pelo terror adolescente dos anos 1980, até chegar ao terror romântico das atuais produções vampirescas… Todo o caminho foi percorrido para que a pré-banca, em novembro de 2009, aprovasse com louvores o nosso projeto! E só então passamos à parte prática.

Paralelamente aos demais trabalhos da faculdade, começamos, ainda em janeiro, a desenvolver o roteiro da série e a criar os personagens. E assim Post Scriptum começou a tomar forma: uma micro-série de seis episódios por temporada, com 40 minutos de duração cada, projetada para um canal a cabo. Claro que não gravamos todos. A exigência da faculdade é que se faça apenas o programa piloto, ou seja, apenas o primeiro episódio. Os demais foram entregues no papel mesmo.

Após um debate sobre a Copa do Mundo (outro trabalho da faculdade, que, infelizmente, ainda não apresentei aqui no Covil) estávamos finalmente com o roteiro pronto, em junho deste ano. Daí partimos para a fase de produção. Entre julho e agosto aconteceram muitas coisas, as quais não vou entrar em detalhes, mas que resultaram em desistências, brigas, 3500 reais jogados no lixo e um recomeçar do zero. Não foi exagero quando nosso colega Will nos comparou a Fenix, pois realmente renascemos das cinzas e superamos as expectativas de todos que apostavam no fim do projeto. Voltando à idéia da montanha, caímos de um abismo e tivemos que reescalar todo um contraforte. Mesmo com a frustração, nós continuamos.

Agosto, setembro, outubro e agora novembro, sempre produzindo e gravando, nos divertindo e nos matando, elogiando e, algumas vezes, esgoelando alguns atores. Mas tudo deu certo e a edição feita pelo Kikito fechou o trabalho com chave de ouro! E ao fim, a apresentação final, o desafio da Banca, o recebimento da nota e, com honras, o fim da faculdade!!! A chegada ao cume.

Ao fim de tudo, eu mesmo me achei um chato. Antes da entrega aos professores, quando finalmente assisti ao piloto pronto, fiz diversas críticas e não gostei de muitas coisas. Porém, para minha surpresa, tudo o que eu apontei como defeito, durante a banca foi apontado como qualidade pelos professores. Desde o Barril, nunca vi um trabalho ser tão elogiado. Eu realmente não esperava tantos comentários positivos da banca e ainda aqui reforço meu desgosto por alguns trechos. Mesmo assim, se a banca disse, então tá dito!

Em resumo, nós fomos aprovados com grande glória, sob aplausos, abraços, lágrimas e elogios!

Mas o que é Post Scriptum?

A série nos conta a história de duas vampiras paulistanas, as irmãs Júlia e Sofia, que há 15 anos foram mordidas e transformadas pelo cínico e secular vampiro Felipe. Porém a personalidade forte de Sofia e a morte súbita de Felipe, fazem com que as irmãs, mesmo com a nova dieta, continuem a levar uma vida relativamente normal, alheias ao sub-mundo dos demais vampiros. Mas a vida tranqüila das irmãs começa a virar de ponta-cabeça quando elas descobrem que alguém mais sabe sobre seus segredos. Será que Felipe está de volta? Ou algo ainda pior está caçando Sofia e sua irmã?

E o cenário dessa aventura de suspense e terror é a imensa cidade de São Paulo, com suas típica paisagens cinzentas, tempo chuvoso, trânsito fechado, drogas e violência.

Em breve, não percam a estréia do episódio piloto, aqui mesmo no Covil! Por enquanto, deixo apenas o trailer para vocês terem um gostinho do é todo o episódio.

Morte in Live!

A resenha abaixo foi apresentada na disciplina de
Produção Executiva do 6º semestre do curso de
Rádio e Televisão, em 2009. A nota recebida? Integral!

Uma câmera rápida e tremida percorre rosto a rosto alguns produtores de TV reunidos em discussão. Cada um deles sugere algo, expõe uma opinião. São idéias para um novo programa televisivo: mais um realily show de uma pequena rede de TV aberta norte-americana. Liderando estes produtores está Katy (Eva Mendes), uma produtora executiva que venderia a própria mãe para conseguir ser original e arrematar os maiores picos de audiência – conseqüentemente, um maior lucro com os patrocinadores. Em meio à discussão, recheada de idéias mirabolantes e contextualizadas com exemplos de realitys já existentes, uma jovem produtora sugere, em tom de brincadeira, que o macabro jogo da Roleta Russa seria um ótimo tema a ser transformado em show; uma idéia absurda, mas que é prontamente acatada por Katy. Eis aí o início de Live! (EUA, 2007), do diretor Bill Buttentag, que em sua trajetória expõe a saga de Katy para colocar seu polêmico e inovador programa no ar.

O filme todo é contado como um falso documentário, a ponto de o próprio cinegrafista fazer as vezes de personagem. Ou mesmo deixando que Eva Mendes roube-lhe a câmera e filme ela própria algumas cenas. Uma linguagem interessante que serve para passar uma impressão de veracidade ao espectador (não, não se parece com Bruxa de Blair), além de contrapor uma linguagem tipicamente cinematográfica (a documental) com sua rival menos quista (a da TV).

O longa discorre por todo o árduo trajeto de uma produção de TV, do papel até sua entrada no ar, passando por toda a labuta da produção executiva e seus confrontos com os órgãos reguladores, a opinião pública, a cúpula da própria emissora e, principalmente, os patrocinadores. O advogado do canal reluta, os patrocinadores se negam a se associarem a uma morte transmitida ao vivo e em forma de show, manifestos são feitos pela população na porta da emissora. Porém Eva Mendes não deixa cair o ânimo de Katy, interpretando-a de maneira decisiva, totalmente focada em sua meta. E é aqui que Guttentag começa sua forte crítica à maneira televisiva de angariar audiências a qualquer custo, mesmo que o preço seja uma vida humana.

O filme mantém uma posição clara sobre o consumismo, o poder da mídia e os limites que os executivos estão dispostos a quebrar em nome do dinheiro. Em lugar de mostrar a violência como algo desnecessário e tentar passar um fundo moral conservador, o longa usa das mesmas artimanhas da TV, mostrando a violência real como atrativo, como sendo esse o gosto predileto do público. E abusa desse tema para conquistar a tensão do espectador.

Katy só consegue convencer os demais quando primeiro convence os meios comerciais. Se haverá lucro, então haverá programa. A produtora finalmente coloca seu programa no ar e aí surge o principal contraste com o cinema: da câmera tremida e a iluminação natural do documentário, passamos à estabilidade dos quadros do programa, com sua iluminação bem planejada e colorida. E se antes a tensão era passada pelo movimento da câmera, agora ela é comprada pela emoção ao se assistir os depoimentos dos participantes, todos em busca do prêmio de 5 milhões de dólares. Porém apenas 4, dos cinco concorrentes, sairão ricos dali. O quinto terá sua vida decidida pela sorte, pois morrerá ao vivo, puxando o gatilho contra sua própria cabeça.

Se existe uma mensagem em Live!, ela não é nada otimista, pois ao fim, é a falta de escrúpulos quem leva a melhor e, mesmo quem parecia contrário a tudo isso, acaba por se envolver na trama consumista da TV. E chaga-se à conclusão de que, se a TV, em seus telejornais, tornou a morte tão banal, o próximo passo seria transformá-la em um show lucrativo. Live! nos mostra que não estamos muito longe disso.