Depois de seis participações no Telhacast, no decorrer de todo este ano, fui convidado por Thiago Miro a ser integrante fixo de sua equipe de podcasters, completando o grupo de dez membros. Agora, caros leitores do Covil, todos poderão me ouvir com mais freqüência no Telha, incluindo o programa desta semana sobre “Filmes Amaldiçoados”.
Não deixem e ouvir os antigos também: a série especial sobre Tolkien e o cast sobre Drácula.
Só quem já escalou uma montanha sabe como é grandiosa a sensação de se chegar ao cume, mesmo que lá em cima não tenha nada. Após quatro anos de faculdade, eis que também chego ao cume, no ápice do curso, o momento final que separa o estudante do profissional! E para a conclusão desses quatro anos, apresentei na última quinta-feira, dia 25, o nosso trabalho derradeiro, o último, que vem sendo desenvolvido desde agosto do ano passado: Post Scriptum, a série!
Há um ano e meio minha equipe e eu estamos trabalhando duro, em diversas áreas, para realizar um trabalho desafiador e que, por muitas vezes, parecia estar além das nossas capacidades. No início foram apenas pesquisas – passeios históricos pela Literatura, o Cinema, o Teatro, as Histórias em Quadrinhos, a TV e por diversos jornais e revistas, acumulando todo o conhecimento possível sobre uma peculiar e consagrada criatura mística que a todos seduz com grande facilidade: o Vampiro! Da Grécia Antiga ao Brasil Moderno, passando pela China e pelos vampiros Andinos; de Polidori a Stephani Meyer, passando por Stoker e Rice; do expressionismo alemão, passando pelo terror adolescente dos anos 1980, até chegar ao terror romântico das atuais produções vampirescas… Todo o caminho foi percorrido para que a pré-banca, em novembro de 2009, aprovasse com louvores o nosso projeto! E só então passamos à parte prática.
Paralelamente aos demais trabalhos da faculdade, começamos, ainda em janeiro, a desenvolver o roteiro da série e a criar os personagens. E assim Post Scriptum começou a tomar forma: uma micro-série de seis episódios por temporada, com 40 minutos de duração cada, projetada para um canal a cabo. Claro que não gravamos todos. A exigência da faculdade é que se faça apenas o programa piloto, ou seja, apenas o primeiro episódio. Os demais foram entregues no papel mesmo.
Após um debate sobre a Copa do Mundo (outro trabalho da faculdade, que, infelizmente, ainda não apresentei aqui no Covil) estávamos finalmente com o roteiro pronto, em junho deste ano. Daí partimos para a fase de produção. Entre julho e agosto aconteceram muitas coisas, as quais não vou entrar em detalhes, mas que resultaram em desistências, brigas, 3500 reais jogados no lixo e um recomeçar do zero. Não foi exagero quando nosso colega Will nos comparou a Fenix, pois realmente renascemos das cinzas e superamos as expectativas de todos que apostavam no fim do projeto. Voltando à idéia da montanha, caímos de um abismo e tivemos que reescalar todo um contraforte. Mesmo com a frustração, nós continuamos.
Agosto, setembro, outubro e agora novembro, sempre produzindo e gravando, nos divertindo e nos matando, elogiando e, algumas vezes, esgoelando alguns atores. Mas tudo deu certo e a edição feita pelo Kikito fechou o trabalho com chave de ouro! E ao fim, a apresentação final, o desafio da Banca, o recebimento da nota e, com honras, o fim da faculdade!!! A chegada ao cume.
Ao fim de tudo, eu mesmo me achei um chato. Antes da entrega aos professores, quando finalmente assisti ao piloto pronto, fiz diversas críticas e não gostei de muitas coisas. Porém, para minha surpresa, tudo o que eu apontei como defeito, durante a banca foi apontado como qualidade pelos professores. Desde o Barril, nunca vi um trabalho ser tão elogiado. Eu realmente não esperava tantos comentários positivos da banca e ainda aqui reforço meu desgosto por alguns trechos. Mesmo assim, se a banca disse, então tá dito!
Em resumo, nós fomos aprovados com grande glória, sob aplausos, abraços, lágrimas e elogios!
Mas o que é Post Scriptum?
A série nos conta a história de duas vampiras paulistanas, as irmãs Júlia e Sofia, que há 15 anos foram mordidas e transformadas pelo cínico e secular vampiro Felipe. Porém a personalidade forte de Sofia e a morte súbita de Felipe, fazem com que as irmãs, mesmo com a nova dieta, continuem a levar uma vida relativamente normal, alheias ao sub-mundo dos demais vampiros. Mas a vida tranqüila das irmãs começa a virar de ponta-cabeça quando elas descobrem que alguém mais sabe sobre seus segredos. Será que Felipe está de volta? Ou algo ainda pior está caçando Sofia e sua irmã?
E o cenário dessa aventura de suspense e terror é a imensa cidade de São Paulo, com suas típica paisagens cinzentas, tempo chuvoso, trânsito fechado, drogas e violência.
Em breve, não percam a estréia do episódio piloto, aqui mesmo no Covil! Por enquanto, deixo apenas o trailer para vocês terem um gostinho do é todo o episódio.
Quem nunca ouviu falar no Conde Drácula, o vampiro da Transilvânia?! Seja por quadrinhos, cinema, TV ou qualquer outra bobagem cultural que difunde seu nome, não importa, ele é sempre o mais temido de todos os vilões, e também o mais sedutor! O vampirão talvez seja o personagem mais pop da literatura (Harry Potter não chega nem aos seus pés no quesito popularidade), no entanto são poucos que realmente conhecem o texto original, e menos ainda aqueles que sabem que o Drácula foi inspirado numa história real.
Calma, calma, vampiros não existem (ou pelo menos isso ainda não foi comprovado). O personagem que inspirou Bram Stoker a escrever seu livro foi o príncipe Vlad III (1431-1476), da Valáquia – uma província da Romênia, ao norte do rio Danúbio. Vlad é considerado ainda hoje um grande herói em sua terra, lembrado como um cavaleiro cristão por lutar contra o expansionismo islâmico. Entretanto, fora dali, ficou conhecido como Vlad Tepes, ou Vlad, o Empalador, devido ao seu hábito de trespassar todos os seus inimigos vencidos com uma estaca de madeira. Além da lenda (ou história) que chegou até nós sobre sua mania de beber o sangue dos inimigos mais poderosos por achar que assim absorveria sua força e vitalidade.
Bram Stoker foi além dessa “história simplória” e desenvolveu em torno dela a lenda do mais celebrado e temido morto-vivo de todos os tempos: Conde Drácula, o mais poderoso dos vampiros. Porém sua história não é lá essas coisas e deixa muito a desejar.
Separei meus últimos dois meses para ler os três maiores clássicos do terror. E deixei Drácula por último, já imaginando que seria o melhor. Mas pra minha surpresa, cada um dos três se mostrou ser completamente diferente do que eu imaginava. Frankenstein abriu meus olhos para os sentimentos mesquinhos e superficiais do ser humano. O Médico e o Monstro reacendeu em mim a eterna discussão entre a ambiguidade da mente. E Drácula me fez cair no tédio!
A idéia que se tem do Conde, dinfundida em tantos filmes e outras mídias, é a de que ele é intocável e quase invencível, sedutor, dissimulado e astuto. Porém não é isso que se encontra no livro. Aqui a história é bem mais simples e mal explicada: Drácula, por algum motivo tosco qualquer, deixa seu castelo na Transilvânia e parte para Londres. Ali ele começa a fazer suas vítimas e logo um grupo de pessoas se volta contra ele. No entanto o livro se arrasta por descrições e divagações dos personagens e por cenas repetitivas que acabam por afundar o leitor no tédio. Sem contar o fato do Conde se mostrar bem mais vulnerável do que se imagina, sempre fugindo, se esquivando, agindo às escondidas. E vários pontos importantes sequer são citados, como a origem de seus poderes, como e porque se tornou aquela criatura e porque diabos ele foi pra Londres!
A história não é contada por um único narrador. Stoker resolveu publicar sua lenda em forma de diários, onde cada personagem conta uma parte da história pelo seu ponto de vista. E isso seria um grande trunfo se a idéia fosse melhor trabalhada. Por ser o ponto de vista dos personagens, a única coisa que se tem são seus planos, discussões e sofrimentos, enquanto o antagonista é apenas uma ameaça distante, que quase nunca dá as caras. Sem contar que esse tipo de narrativa quebra muito do suspense, afinal, não importa quão perigosa seja a aventura, o narrador estará vivo no final. E isso se descobre logo ao ler os títulos dos capitulos (por exemplo: “Do Diário de Jonathan Harker”).
Os únicos momentos que realmente valem a pena são o início da história, os quatro primeiros capítulos nos quais Jonathan está aprisionado no Castelo de Drácula em meio a dezenas de acontecimentos sobrenaturais: mulheres sensuais que aparecem em meio a uma neblina, lobos que obedecem um simples olhar do Vampiro, morcegos e ciganos, muita sombra e escuridão.
Depois disso, a única ânsea do leitor é para que aconteça alguma coisa. Porque nunca nada acontece e os momentos-chave ficam muito distantes um dos outros. E o fim nunca chega! Mas, repente, eis que tudo acontece de uma só vez nas últimas páginas do livro e o ápice de toda a história se desfáz num piscar de olhos. E fim! Acabou! Tal como este texto!
Aos interessados, participei de um podcast sobre Drácula, onde discutimos o livro em si, seus contextos históricos, sua ligações com Vlad Tepes, além de várias adaptações clássicas do livro para o cinema. Para ouvir, basta clicar aqui.
Ficha Técnica
Título: Drácula Autor: Bram Stoker País: Inglaterra Publicação Original: 1897 Publicação Lida: L&PM Pocket, 1998 (Vale ressaltar que essa publicação é cheia de erros ortográficos e de pontuação)
Tudo começou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851), então uma jovem de 21 anos, por Lord Byron. Na época, 1816, Byron propôs a Mary e seu marido que escrevessem um conto de terror, uma maneira de passar o tempo, já que suas férias estavam sendo consumidas intediantemente pelo mau tempo. Mary foi a última a dar início ao seu conto, que acabou baseado em um pesadelo que teve numa daquelas noites de chuva. E, dentre todos, o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou. Insentivada a continuar, Mary Shelley desenvolveu ainda mais sua história e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da História: Frankenstein.
Victor Frankenstein era um jovem curioso, com sede de conhecimento, apaixonado pela ciência, intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo. Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia, no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada há muito. Acabou se tornando um aluno exemplar, dedicado à química e à biologia. Foi assim que, sozinho em seu laboratório em Ingolstadt, Victor deu início à sua criação, misturando seus conhecimentos teóricos de fisiologia e filosofia natural com princípios de mecânica, decido a descobrir se o princípio que mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo após a morte. Como Victor fez isso, todos já sabemos: deu vida a uma criatura formada por partes de cadáveres, de tamanho descomunal (cerca de 2,5m de altura) e aparência horripilante. E é aqui que dá-se início ao grande trunfo da história!
Ao despertar da Criatura, Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criação, com seus membros desproporcionais, seu olhos aquosos e amarelos, incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer cobrirem todo o corpo, deixando à mostra músculos e ossos. Desesperado e com medo, arrependido de sua audácia, Victor abandona sua Criatura, decaindo num súbito acesso de náusea e lucidez.
Pobre Criatura, um ser vazio de conhecimentos, ignorante em relação ao convívio social, solto num mundo de pessoas preconceituosas e indiferentes. A personificação perfeita da famosa teoria de Rousseau, a do “bom selvagem”, que diz que todo o homem nasce “puro” e é corrompido pela sociedade violenta, viciosa e materialista. Quem lê a história de Frankenstein espera encontrar terror, suspense e aventura, onde um monstro estaria a solta para destruir e matar. No entanto descobre um mundo onde nós humanos somos totalmente repugnantes e no qual o único ser que realmente tem algum valor é o monstro excluído por todos. Poucos livros retratam tão bem a indiferença humana e a nossa mania de dar mais valor às aparências do que aos sentimentos, carater e virtudes.
Mary Shelley escreveu uma autêntica obra-prima da literatura universal, um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixão por um monstro e a repugnância de nossa própria raça. Uma lição que ainda não foi aprendida, mesmo depois de quase 200 anos.
Ficha Técnica
Título: Frankestein (Frankenstein; or the Modern Prometheus) Autor: Mary Shalley País: Inglaterra Publicação Original: 1818 Publicação Lida: Martin Claret Editora, 2001