O Rei da Pilantragem

SimonalWilson Sideral, aquele compositor mineiro? Não, não, é Simonal! Wilson Si-mo-nal!

Pois é, é bem diferente, né? Eu também nunca tinha ouvido falar dele. Pelo menos até ontem. E o que houve ontem? Fui convidado a assistir uma sessão especial de pré-lançamento do filme “Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei” (Brasil, 2009), um documentário da Globo Filmes, dirigido por Micael Langer, Calvito Leal e o casseta Cláudio Manoel, e que estréia nesta sexta-feira, 15, nos cinemas de todo país.

Mesmo ali, na sala de cinema, antes do filme começar, não esperava muita coisa. Pensei que seria algo razoável e que Simonal seria apenas mais um artista que ficou perdido no tempo. No entanto minha surpresa diante do que vi só não foi maior que o talento do cantor!

Para aqueles que não o conhecem, e, muito provavelmente, qualquer um que tenha nascido após a década de 1970 realmente não o conhece, o Simona, como era chamado por alguns amigos, foi o rei dos palcos nos anos 1960 e 70. Ninguém era páreo para ele. E mesmo a Jovem Guarda, liderada por Roberto Carlos, ou a Tropicalha, de Caetano e Gil, foram suplantadas pela “Pilantragem” de Simonal.

Negro e de origem pobre, o cantor conhecia bem a discriminação da época. No entanto sua voz e seu carisma o tiraram da carreira militar, o levaram para os palcos das casas noturnas do Rio e, no auge do sucesso, para a tela da TV, onde teve seu próprio programa, o Show em Si …monal, na TV Record.

Porém tudo acabou repentinamente. Devido a um incidente com a polícia, um caso que nunca foi esclarecido, Simonal passou a ser acusado de informante do DOPS, o departamento do Governo Militar cujo o objetivo era reprimir quaisquer movimentos contrários ao Regime. Desde então Wilson Simonal passou a ser visto com outros olhos e falar em seu caso virou tabu entre os colegas do meio artístico. Até que foi totalmente esquecido, mesmo após o fim da Ditadura Militar. Ainda tentou voltar em meados da década de 1990, porém a lamentosa falta de memória do povo brasileiro já o havia olvidado completamente e Simonal morreu esquecido em 2000.

E é exatamente toda essa história que o documentário tenta resgatar, reconstruindo a carreira de Simonal desde o início e tentando anistiá-lo da acusação de direitista delator.

Simonal01 copyPara tal o filme conta com depoimentos de seus dois filhos, os músicos Wilson Simoninha e Max de Castro, e de ilustres amigos, como Chico Anysio, Castrinho, Pelé, Tony Tornado, entre outros. Além de pesquisadores e até mesmo inimigos de Simonal. Mas principalmente por imagens do próprio cantor, cedidas por emissoras de TV, as quais contam sozinha a história de Wilson Simonal e toda a grandiosidade de seu talento.

Simonal copyPara quem não esperava nada de um documentário brasileiro, eu saí do cinema emocionado e indignado. Emocionado com a voz incomparável e a capacidade ímpar de reger um coro de 30 mil vozes (ou 40, ou 50…). E indignado ao descobrir como um boato pode ser cruel a ponto de destruir um reinado inteiro.

Muito bem feito, “Ninguém Sabe o Duro que Dei” é um filme que merece ser visto por todo o povo brasileiro, pois contém em si um resgate não só de uma vida injustamente esquecida, mas de uma época em que a repressão calou todo um país, menos a voz de Wilson Simonal, o Rei da Pilantragem!

 

Para quem quiser saber mais sobre o filme, saber as salas de exibição ou mesmo assistir aos trailers, acesse os sites: www.moviemobz.com/simonal ou www.simonal.com

Novos Heróis

jmgHá algumas semanas, por mero acaso, meu irmão recebeu por MSN uma música de uma dupla da qual nunca ouvi falar. Pelo nome, pensei a princípio que fosse mais um desses pseudo-sertanejos, chamados de universitários. Mal sabia que estava prestes a me tornar um fã.

Logo que ouvi a música fiquei maravilhado. Não é todo dia que se vê músicos com coragem e audácia para gravar canções desse tipo, indo na contra-mão das atuais modinhas e ainda criticando-as, ou mesmo exaltando seu bom gosto, sem vergonha de mostrar que ainda é possível compôr com qualidade sem espantar o público.

Enfim, a dupla a qual me refiro é formada por Julinho Marassi e Gutemberg, dois músicos do Rio de Janeiro, considerados a dupla nº 1 do Sul Fluminense, ou simplesmente “A Dupla”. E a música é a chamada “Aos Meus Heróis”, composta, de acordo com Julinho, “por saudade da MPB e de escutar todos esses artistas maravilhosos” que fizeram parte de sua juventude.

Abaixo estão um vídeo do YouTube com a música referida (não reparem nas imagens, elas distorcem um bocado a música) e também a letra completa. Porém é possível, no site da dupla, ouvir todas as músicas de seus 2 CDs e ainda baixá-las gratuitamente.

“Ao Meus Heróis”
Composição: Júlio César Marassi

Faz muito tempo que eu não escrevo nada,
Acho que foi porque a TV ficou ligada
Me esqueci que devo achar uma saída
E usar palavras pra mudar a sua vida.

Quero fazer uma canção mais delicada,
Sem criticar, sem agredir, sem dar pancada,
Mas não consigo concordar com esse sistema
E quero abrir sua cabeça pro meu tema

Que fique claro, a juventude não tem culpa.
É o eletronic fundindo a sua cuca.
Eu também gosto de dançar o pancadão,
Mas é saudável te dar outra opção.

Os meus heróis estão calados nessa hora,
Pois já fizeram e escreveram a sua história.
Devagarinho vou achando meu espaço
E não me esqueço das riquezas do passado.

Eu quero “a benção” de Vinícius de Morais,
O Belchior cantando “como nossos pais”,
E “se eu quiser falar com…” Gil sobre o Flamengo,
“O que será” que o nosso Chico tá escrevendo.

Aquelas “rosas” já “não falam” de Cartola
E do Cazuza “te pegando na escola”.
To com saudades de Jobim com seu piano,
Do Fábio Jr. Com seus “20 e poucos anos”.

Se o Renato teve seu “tempo perdido”,
O Rei Roberto “outra vez” o mais querido.
A “agonia” do Oswaldo Montenegro
Ao ver que a porta já não tem mais nem segredos.

Ter tido a “sorte” de escutar o Taiguara
E “Madalena” de Ivan Lins, beleza rara.
Ver a “morena tropicana” do Alceu,
Marisa Monte me dizendo “beija eu”
Beija eu, Beija eu Deixa que eu seja eu
Beija eu, beija eu deixa qe eu seja eu

O Zé Rodrix em sua “casa no campo”
Levou Geraldo pra cantar no “dia branco”.
No “chão de giz” do Zé Ramalho eu escrevi
Eu vi Lulu, Benjor, Tim Maia e Rita Lee.

Pedir ao Beto um novo “sol de primavera”,
Ver o Toquinho retocando a “aquarela”,
Ouvir o Milton “lá no clube da esquina”
Cantando ao lado da rainha Elis Regina.

Quero “sem lenço e documento” o Caetano
O Djavan mostrando a cor do “oceano”.
Vou “caminhando e cantando” com o Vandré
E a outra vida, Gonzaguinha, “o que é?”

Atenção DJ faça a sua parte,
Não copie os outros, seja mais “smart”.
Na rádio ou na pista mude a seqüência,
Mexa com as pessoas e com a consciência.

Se você não toca letra inteligente
Fica dominada, limitada a mente.
Faça refletir DJ, não se esqueça,
Mexa o popozão, mas também a cabeça.

Para conhecerem melhor a dupla, acessem: www.adupla.com

Músicas e Músicos

Música é essencial na vida de qualquer ser humano! E o tema não poderia faltar aqui no Covil. Abaixo estão listados todos os artigos relacionados a músicas e músicos aqui já publicados.

21-09-2012 – Gangnam Style, Latino e a Educação Brasileira
Reflexão sobre o hit sul-coreano, seu plágio feito por Latino e um paralelo disso tudo com a educação do Brasil.

20-06-2012 – A Geração Coca-cola Morreu
Análise da canção “Geração Coca-cola, da Legião Urbana.

08-12-2011 – O Primeiro Ato
Análise da música Daniel na Cova dos Leões, da Legião Urbana.

12-04-2011 – Coloridos: A Geração Perdida
Uma crítica a atual geração de músicos coloridos e vazios.

13-05-2009 – O Rei da Pilantragem
Sobre o documentário de Wilson Simonal.

20-03-2009 – Índios Frustrados
Análise da música “Índios”, da Legião Urbana.

15-02-2009 – Novos Heróis
Sobre Julinho Marassi e Gutembergui