O artigo a seguir foi escrito por um grande amigo meu, Lucas Magalhães, estudante de jornalismo em Varginha, e expõe bem o momento de modismo vulgar (como todo modismo) pelo qual passamos: uma difusão da “contra-cultura universitária”, com suas músicas baratas, seu consumismo desordenado e sua filosofia do “beber, cair, levantar”.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apenas 5% da população do país chega às carteiras do ensino superior. O que parece pouco, na verdade é irrisório se comparadas aos números de países desenvolvidos. No entanto de olho num público de aproximadamente 8,3 milhões de pessoas o mercado de consumo lançou a ‘moda universitária’ especialmente na indústria do entretenimento. Desta forma tudo virou universitário, os pagodes, os churrascos, o axé, o sertanejo, as quintas, as sextas, os sábados. Só para exemplificar, nada difere o axé de Daniela Mercury e Chiclete com Banana, muito bom por sinal, do inicio da década de 90 e o que se toca agora nas micaretas que surgiram pelo país, mas o que percebo é que se coloca na propaganda qualquer coisa universitária o caixa registra mais dinheiro na entrada.
Em Varginha os comerciantes aguardam com ansiedade o dia quatro de agosto, data de volta às aulas nas instituições de ensino superior da cidade. Tudo por que a movimentação financeira é significativa entre estes estudantes. Tudo por conta do status que se vinculou ao fato de se estar estudando no terceiro grau. Ser universitário, agora é a onda da vez, é alvo do mercado de consumo.
E o escasso dinheiro da maioria desses estudantes que dependem da ajuda da família para continuarem seus estudos se esvai, aproveitando o fato da empolgação de se estar fora de casa, e do pouco senso de controle financeiro que temos. Aliás, os universitários estão em disputa. Como somos considerados bons consumidores de álcool ficamos no meio da queda de braços entre governo e mercado. De um lado a lei seca 11 705 que restringe o uso de bebidas alcoólicas e direção, aliada a tentativa da proibição da propaganda de cervejas e outras bebidas alcoólicas, por outro, a consolidação da cultura do ‘beber, cair e levantar’. O mais interessante é que numa dessas apenas cumprimos o beber e o cair, o levantar fica por conta, na melhor das hipóteses, dos colegas de balada. E na pior delas, pelo corpo de bombeiros. É um paradoxo, conceitos conflitantes, tendo como cenário o interesse financeiro. E claro nos tornamos marionetes movidas à diversão na mão dos empresários, dos donos de cervejarias, das bancas de CDs piratas, das casas noturnas que cobram absurdos para colocar luzes piscando e música eletrônica. Ao passo que estas casas se enchem, o que não é bem um problema, nossas cabeças se esvaziam de conhecimento, ficamos cada período menos preocupados com a qualidade de ensino que se oferece nas universidades da cidade. Por isso deveriam criar a moda do ‘ensino universitário’, pelo menos quem sabe conseguiríamos aprender um pouco mais. Opá! Mas isso já existe! Ou não?
Lucas Magalhães é estudante de Jornalismo na UNIS e estagiário do Jornal Correio do Sul, em Varginha – MG
Texto publicado Originalmente no Diário Correio do Sul em 28 de julho de 2008