Um Brasil Milenar

O esqueleto de “Luzia”, como foi apelidado os restos mortais encontrados em Minas Gerais na década de 1970, foi datado com cerca de 12 mil anos de idade. É o mais antigo esqueleto do país e prova de que o ser humano já habitava por essas bandas há muito, mas muito tempo mesmo! Mais curioso ainda foi a descoberta feita pelos pesquisadores que analisaram o crânio de Luzia e constataram que ela era uma mulher negra – ou, pelo menos, tinha fortes características da estrutura óssea do povo africano.

Neste momento você deve estar se perguntando: será possível que tribos da África atravessaram o Atlântico em canoas e vieram às Américas antes mesmo dos atuais povos ameríndios, que chegaram por aqui vindos da Ásia? A resposta para essa pergunta pode ser encontrada em 1499 – O Brasil Antes de Cabral, escrito pelo jornalista da Folha de S. Paulo, Reinaldo José Lopes. O livro, publicado em 2017, parte do mistério de Luzia e se envereda por diversas outras curiosidades da arqueologia e paleontologia brasileiras, descrevendo várias descobertas sobre a pré-história sul-americana e desmistificando muito do que é popularmente conhecido pelos brasileiros.

Se na escola se aprende sobre índios preguiçosos e sociedades pacíficas habitando o continente de tal forma que pouco ou nenhum rastro causavam na natureza, em 1499 Lopes mostra uma outra visão, menos apática e muito mais instigante do que realmente eram estas terras antes da chegada dos portugueses e espanhóis.

Os habitantes nativos da América, principalmente da Amazônia, remodelaram muito da paisagem ao seu redor. Segundo o livro, as florestas encontradas por Cabral não eram tão naturais como os portugueses imaginaram, tendo muito de sua flora modificada pela ação humana ao longo de milhares de anos. E o mesmo pode ser dito do solo e, em alguns casos, até mesmo do relevo – canais e ilhas artificiais, solos cultivados e ricos em nutrientes, estradas e fortalezas, além de uma rica e colorida arte cerâmica, capaz de fazer inveja à porcelana chinesa.

A idéia de que os índios brasileiros não modificavam seu ambiente cai por terra após as recentes descobertas, que mostram vastas sociedades e uma longa rede de comércio entre diversas tribos ao longo de todo o “berço explêndido” onde viria a se deitar o Brasil.

Aproveitando os avanços da ciência, Lopes ainda pauta seu livro em pesquisas genéticas, linguísticas e antropológicas para traçar uma linha do tempo de diversas civilizações que habitavam as regiões que hoje compõem nosso atual país e seus vizinhos – e demonstra que sim, a vida por aqui era muito agitada antes do descobrimento; e não, os antigos inquilinos dessa pátria pouco tinham de pacíficos e nada de reticentes com a dominação européia de suas terras.

Ao longo do texto, Lopes conversa diretamente com o leitor, sempre com bom humor e simpatia, usando de trocadilhos e tiradas engenhosas para traduzir muitos dos termos técnicos usados na ciência. Mais que despertar a curiosidade, e mesmo que não seja a intenção do autor, a obra instiga um certo patriotismo ao expor a grandiosidade por trás deste gigantesco pedaço de continente que hoje nos cabe.

Se o Brasil não possui um mito fundador, como tantos outros países mundo afora, talvez, com 1499, seja possível ter um gostinho do que viria a ser este complemento histórico, dando ao país um passado extra e, ao povo, uma extensão da personalidade coletiva que nos une como nação.

Diário de um Genealogista Amador

Até onde minhas lembranças se estendem, sempre gostei de coisas antigas, daquele tipo que quase mais ninguém dá valor. Nos dias chuvosos da minha infância, quando brincar na rua não era possível, lembro-me que minha principal diversão era ver e rever as centenas de fotos antigas que minha família ainda guarda nos maleiros dos guarda-roupas. Deleitava-me em ver antepassados que nunca conheci, todos em preto e branco, rostos sérios e poses pomposas. Perguntava a minha mãe e minhas tias o nome de cada um e qual relação tínhamos com aquelas pessoas. Eram tios e tias, avôs e avós, primos e primas, todos de várias gerações diferentes e vários graus de parentesco. Devido a isso, acabei por conhecer muito bem minha família, de ponta a ponta.

Anos mais tarde, ao conhecer a Obra de Tolkien em meados da minha adolescência, acabei me deparando com estudos detalhados da genealogia de personagens ficcionais, habitantes da Terra-média, o mundo imaginário tolkieniano. Em seus livros, Tolkien traça árvores genealógicas gigantesca, ligando seus personagens e criando famílias imensas, sejam de hobbits, elfos, ou humanos.

Eis então que uma coisa incentivou a outra e vice-versa e, agora, numa fase totalmente diferente da minha vida, após terminar a faculdade e começar a trabalhar de verdade, resolvi correr atrás das minhas origens, conhecer melhor meus antepassados, suas histórias, e toda a dinastia que se iniciou no Sul de Minas e se estendeu por todo o país.

Em meados de novembro de 2010, dei início aos primeiros estudos deste projeto, coletando dicas na internet, procurando orientação de pessoas mais experientes no assunto e conhecendo softwares de genealogia (dos quais escolhi o MyHeritage) que pudessem me ajudar na organização e estruturação das pesquisas.

Para o meu desespero, porém, a empreitada se mostrou muito mais difícil do que eu imaginava, por diversos motivos. O principal (e este eu até já esperava) é a distância: estando eu em São Paulo e minha família em Minas, o contato para coleta de informações se complica. Restou-me então abusar da internet, distribuir e-mails e recados em redes como Orkut e Facebook e, quando possível fazer visitas rápidas, sempre em companhia do laptop. Outro empecilho nesta jornada é o descaso de um ou outro com quem me deparo. Não os culpo, afinal, cada um tem seus interesses e, convenhamos, ficar listando nomes e datas de pessoas mortas há anos não parece nada útil ou divertido. Por outro lado, para compensar, encontro vez ou outra com pessoas interessadas e prontas a ajudar.

É desta forma que venho, aos poucos, garimpando a matéria prima para compor minha árvore genealógica de ambos os lados da família: os Vilas Boas e os Militani. Nestes cinco meses, já coletei 326 nomes, mas apenas a minoria possui a ficha completa com datas e informações. Todo o restante não passa de nomes que nem mesmo sei se estão grafados corretamente. Minhas fontes orais estão se extinguindo e dentro em breve terei de partir para o próximo passo das pesquisas: cartórios e cemitérios.

Parece complicado e um trabalho grande demais para se desenvolver um estudo cujo interesse se restringe a apenas alguns membros da família, porém a satisfação ultrapassa os resultados. O caminho percorrido é o que mais satisfaz, afinal estou fazendo contato com pessoas que há muito não via ou não conversava e familiares distantes que não conhecia; estou matando saudades e conhecendo pessoas novas. De árvore, a idéia se estendeu para um documento maior, talvez até mesmo um livro. O caminho para isso ainda é longo e o resultado ainda irá demorar para ser atingido. Mas continuarei. E com o tempo, postarei mais informações, de acordo que for completando novos estágios. Só espero que alguém mais se interesse em ler.