Minas é a Mãe. Bença, Mãe!

Há muitos anos encontrei, enquanto navegava pela internet,
um texto muito bonito sobre a peculiar maneira de ser mineiro.
Li e reli esse texto várias vezes no decorrer do tempo,
me emocionando ao me indentificar com cada uma
das características nele citadas.
Só recentemente descobri quem é o autor do texto:
ninguém menos que Herbert de Souza, o Betinho.
E agora, tão longe de casa,
nada melhor do que relembrar Minas
em palavras e ainda compartilhar com vocês
esse genial tributo à Pátria Mãe de Betinho,
minha e de tantos mineiros:

 minas-gerais

betinhoO jeito mineiro de ser é o quê? E por quê? O ser mineiro é um modo particular de ser que se pode descrever mas que é difícil de se entender. É mais para calado que falante. Quem fala muito dá bom dia a cavalo, dizia a minha mãe para conter o meu ímpeto falatório. Quem fala se expõe, se arrisca, pode parecer bobo, meio idiota, exibido, ridículo. Mineiro morre de medo do ridículo, de ser gozado, criticado. Quer matar um mineiro? Ria dele! Por isso todo mineiro toma a iniciativa da gozação. Chega, fica num canto e arranja logo alguém pra gozar. É capaz de tomar a iniciativa de gozar a si próprio para não ser gozado por outrem. Falar mal de alguém é um modo de se proteger da fala do outro. Mas falar mal pode ate ser um modo de falar bem, porque o pior é não ser falado. Cair no ouvido.

Fica calado e fica quieto, gesticular também não dá, pode parecer espalhafato, teatro, representação. Quem se mexe desperta atenção, instiga a caça, fica vulnerável, na mira do ataque. Ficar quieto, fingir de morto, no silêncio, na tocaia de si próprio, protegido do outro. Mineiro que veio do mato sabe de caça e de caçador. Milton já cantou o “Caçador de Mim”.

Mineiro não abre a guarda, não mostra a casa, não exibe a riqueza, não grita da janela, não sai correndo de jeito nenhum. Chega devagar, fica devagar, e sai mais devagar ainda. Tem que se proteger de algo.

Mineiro olha por cima, mas não de cima. Mineiro falante veio de fora. Mineiro direto, aberto, agressivo, é desvio de rota, não é caminho normal. Mineiro é ético, não se arrisca no roubo, no assalto, na aventura. O erro pode não dar certo. Mineiro é mais da ordem, do caminho percorrido, conhecido, estabelecido. É mais status quo que mudança de status. É mais terno que manga curta, mais sapato que tênis, mais automóvel que carro esporte. Mais casamento que caso fora de casa. Mais café preto que chás variados.

Já a mineira é tudo isso que o mineiro e muito mais. Se pede com o olhar, se esconde na recusa. É mãe mesmo quando não tem filhos. Até os 20 é um pecado, depois é muito mais. Transpira todos os pecados numa virtude só. Surpreende depois te esquece. Te ama com paixão depois te deixa sem dó nem piedade. Basta por os óculos escuros ou mesmo ray-ban que vira outra pessoa, sem remorso. Porque a mineira não se reduz ao mineiro, foi muito além. Mineira é ótima, diferente dos demais seres humanos, vem de um fundo que ninguém sabe, de um interior que não tem mapa, fronteiras desconhecidas.

E tudo isso pode ser visto e sentido, não explicado. Pode ser descrito mas não fundamentado. É porque veio do interior ou nunca saiu de lá. É porque sempre foi camponês e se escondeu detrás das serras e dos montes. É porque foi judeu novo, migrante corrido, foragido desconfiado do que chega atrás de suas origens. É porque teme a Deus e conversa com o diabo. É porque não tem certeza do certo e duvida até do duvidado. Gosta do reverso e começa tudo pelo contrário torcendo para dar certo. É porque se ri do moderno é porque sabe que tudo no fundo é mesmo muito antigo, sempre renovado.

Mas porque tudo isso, de onde veio e para onde vai? Ninguém vai saber por que não se fala, se olha e se ri como se tudo já tivesse sido dito. O sabido do ignorado.

ouro_pretoSe um dia o Brasil acabar, Minas continua. Tem horizonte para tal, tem substância. Para durar, tem ainda muitos casos para contar, distancia a percorrer, pecados a espiar, contas para fazer, saudades a matar.

Minas vive em dívida consigo mesma, fazendo promessas para pagar. É sua forma de ser eterna nesse trivial do cotidiano. Vive sangrando minério, exportando seu ser para o mundo, em silenciosos trens que não param de ir sem nunca mais voltar. Levando Itabirito, Itabira, Conselheiro Lafaiete. Montanhas. Minas é o único lugar do mundo que exporta montanhas e não fica rica.

Por tudo isso é que quando tenho vontade de rever o Brasil vou a Minas Gerais. (…) E volto cheio de mim, carregado de coisas, como se tivesse mergulhado no tempo e me perdido no espaço, virado de repente um ser planetário vivendo no interior do mundo.

Minas para mim tem várias cidades e poucos endereços: é Bocaiúva, Neves e Belo Horizonte. É rua Ouro Preto e Ceará. A primeira mudou de nome, na segunda sumiram com minha casa. Minas na verdade hoje é mil amigos que não vejo e minha mãe. Bença mãe!

Herbert de Souza, o Betinho

O Mundo Segundo Hernán Casciari

Há algum tempo recebi por e-mail um texto muito interessante e divertido, escrito pelo jornalista argentino Hernán Casciari, que ilustra muito bem, e de maneira bem curiosa, o funcionamento político do mundo e as relações entre os países.

Casciari (na foto abaixo) nasceu em Mercedes (Buenos Aires), a 16 de março de 1971. É escritor e jornalista, conhecido por seu trabalho ficcional na Internet, onde tem trabalhado na união entre literatura e blog, muito destacado na blognovela. Sua obra mais conhecida na rede, “Weblog de una mujer gorda”, foi editada em papel, com o título: “Más respeto, que soy tu madre”.

O texto é reproduzido abaixo integralmente:

mapa-mundi

hernan-casciariLi uma vez que a Argentina não é nem melhor, nem pior que a Espanha, só que mais jovem. Gostei dessa teoria e aí inventei um truque para descobrir a idade dos países baseando-me no ‘sistema cão’.

Desde meninos nos explicam que para saber se um cão é jovem ou velho, deveríamos multiplicar a sua idade biológica por 7. No caso de países temos que dividir a sua idade histórica por 14 para conhecer a sua correspondência humana. Confuso? Neste artigo exponho alguns exemplares reveladores.

Argentina nasceu em 1816, assim sendo, já tem 190 anos. Se dividimos estes anos por 14, a Argentina tem ‘humanamente’ cerca de 13 anos e meio, ou seja, está na pré-adolescência. É rebelde, se masturba, não tem memória, responde sem pensar e está cheia de acne.

Quase todos os países da América Latina têm a mesma idade, e como acontece nesses casos, eles formam gangues. A gangue do Mercosul é formada por quatro adolescentes que tem um conjunto de rock. Ensaiam em uma garagem, fazem muito barulho, e jamais gravaram um disco.

A Venezuela, que já tem peitinhos, está querendo unir-se a eles para fazer o coro. Em realidade, como a maioria das mocinhas da sua idade, quer é sexo, neste caso com Brasil que tem 14 anos e um membro grande.

O México também é adolescente, mas com ascendente indígena. Por isso, ri pouco e não fuma nem um inofensivo baseado, como o resto dos seus amiguinhos. Mastiga coca, e se junta com os Estados Unidos, um retardado mental de 17 anos, que se dedica a atacar os meninos famintos de 6 anos em outros continentes.

No outro extremo, está a China milenária. Se dividirmos os seus 1.200 anos por 14 obtemos uma senhora de 85, conservadora, com cheiro a xixi de gato, que passa o dia comendo arroz porque não tem – ainda – dinheiro para comprar uma dentadura postiça. A China tem um neto de 8 anos, Taiwan, que lhe faz a vida impossível. Está divorciada faz tempo de Japão, um velho chato, que se juntou às Filipinas, uma jovem pirada, que sempre está disposta a qualquer aberração em troca de grana.

Depois, estão os países que são maiores de idade e saem com o BMW do pai. Por exemplo, Austrália e Canadá. Típicos países que cresceram ao amparo de papai Inglaterra e mamãe França, tiveram uma educação restrita e antiquada e agora se fingem de loucos. A Austrália é uma babaca de pouco mais de 18 anos, que faz topless e sexo com a África do Sul. O Canadá é um mocinho gay emancipado, que a qualquer momento pode adotar o bebê Groenlândia para formar uma dessas famílias alternativas que estão de moda.

A França é uma separada de 36 anos, mais puta que uma galinha, mas muito respeitada no âmbito profissional. Tem um filho de apenas 6 anos: Mônaco, que vai acabar virando puto ou bailarino… ou ambas coisas. É a amante esporádica da Alemanha, um caminhoneiro rico que está casado com Áustria, que sabe que é chifruda, mas que não se importa.

A Itália é viúva faz muito tempo. Vive cuidando de São Marino e do Vaticano, dois filhos católicos gêmeos idênticos. Esteve casada em segundas núpcias com Alemanha (por pouco tempo e tiveram a Suíça), mas agora não quer saber mais de homens. A Itália gostaria de ser uma mulher como a Bélgica: advogada, executiva independente, que usa calças e fala de política de igual para igual com os homens (A Bélgica também fantasia de vez em quando que sabe preparar espaguete).

A Espanha é a mulher mais linda de Europa (possivelmente a França se iguale a ela, mas perde espontaneidade por usar tanto perfume). É muito tetuda e quase sempre está bêbada. Geralmente se deixa foder pela Inglaterra e depois a denuncia. A Espanha tem filhos por todas as partes (quase todos de 13 anos), que moram longe. Gosta muito deles, mas a perturbam quando têm fome, passam uma temporada na sua casa e assaltam sua geladeira.

Outro que tem filhos espalhados no mundo é a Inglaterra. Sai de barco de noite, transa com alguns babacas e nove meses depois, aparece uma nova ilha em alguma parte do mundo. Mas não fica de mal com ela. Em geral, as ilhas vivem com a mãe, mas a Inglaterra as alimenta. A Escócia e a Irlanda, os irmãos de Inglaterra que moram no andar de cima, passam a vida inteira bêbados e nem sequer sabem jogar futebol. São a vergonha da família.

A Suécia e a Noruega são duas lésbicas de quase 40 anos, que estão bem de corpo, apesar da idade, mas não ligam para ninguém. Transam e trabalham, pois são formadas em alguma coisa. Às vezes, fazem trio com a Holanda (quando necessitam maconha, haxixe e heroína); outras vezes cutucam a Finlândia, que é um cara meio andrógino de 30 anos, que vive só em um apartamento sem mobília e passa o tempo falando pelo celular com Coréia.

A Coréia (a do sul) vive de olho na sua irmã esquizóide. São gêmeas, mas a do Norte tomou líquido amniótico quando saiu do útero e ficou estúpida. Passou a infância usando pistolas e agora, que vive só, é capaz de qualquer coisa. Estados Unidos, o retardadinho de 17 anos, a vigia muito, não por medo, mas porque quer pegar as suas pistolas.

Israel é uma intelectual de 62 anos que teve uma vida de merda. Faz alguns anos, Alemanha, o caminhoneiro, não a viu e a atropelou. Desde esse dia Israel ficou que nem louco. Agora, em vez de ler livros, passa o dia na sacada jogando pedras na Palestina, que é uma mocinha que está lavando a roupa na casa do lado.

Irã e Iraque eram dois primos de 16 que roubavam motos e vendiam as peças, até que um dia roubaram uma peça da motoca dos Estados Unidos e acabou o negocio para eles. Agora estão comendo lixo. O mundo estava bem assim até que, um dia, a Rússia se juntou (sem casar) com a Perestroika e tiveram uma dúzia e meia de filhos. Todos esquisitos, alguns mongolóides, outros esquizofrênicos.

Faz uma semana, e por causa de um conflito com tiros e mortos, os habitantes sérios do mundo, descobrimos que tem um país que se chama Kabardino-Balkaria. É um país com bandeira, presidente, hino, flora, fauna… e até gente! Eu fico com medo quando aparecem países de pouca idade, assim de repente. Que saibamos deles por ter ouvido falar e ainda temos que fingir que sabíamos, para não passar por ignorantes.

Mas aí, eu pergunto: por que continuam nascendo países, se os que já existem ainda não funcionam?

Reforma Ortográfica – Mudanças e Interesses

O artigo abaixo é mais um escrito pelo Magalhães
e fala não só por ele mas por muitos brasileiros
ao expôr dúvidas sobre a Reforma ortográfica,
em vigor nos países de língua portuguesa desde 1º de janeiro de 2009.  Abaixo estão seus pontos de vista sobre a ambigüidade
da reforma e a confusão que ela provavelmente irá causar:

reforma-ortografica

De fato fará falta alguns dos acentos e sinais gráficos derrubados com a reforma ortográfica que entra em vigor em 2009. Medo da mudança? Medo do novo? Não. É constatação de uma atitude sem fundamento lógico. Tudo evolui, o mundo evolui, o dia termina e começa de novo totalmente diferente. A pergunta que fica é porque o idioma que falamos, símbolo que lembra uma época dominadora, não pode se adequar às diversas regiões do mundo onde foi imposto?

A impressão que se tem é que o Brasil, um dos países que mais impulsionaram a reforma ortográfica, quer, de uma forma disfarçada, viver a dominação cultural que outrora foi vítima. Num retrocesso histórico, a reforma está na contra mão do mundo. Trata-se de um desrespeito oficializado às culturas que poderiam enriquecer a maneira de falar português. Mas não. Ao contrário a reforma vem colocar todos num único pacote lingüístico. Mais uma vez a língua se torna um instrumento de anulação da identidade de cada povo que se comunica através dela. Uma vez que já é inevitável que as línguas maternas, como no Brasil foi o Tupi Guarani, tenham entrado em estado de coma, mais uma vez subjuga-se o povo a versar no português de uma maneira que eles desejaram que fosse.

Outra pergunta séria que deve-se fazer nesse momento que antecede a entrada em vigor da nova regra gramatical é: porque os povos, nas diversas comunidades mundo afora, não puderam opinar sobre a necessidade ou não de se modificar a língua escrita? Quantos motivos financeiros, além dos políticos, não existem nessa atitude de reforma da língua?

mapaÉ de fato algo de instigador perceber que não existe o mesmo esforço desses países atingidos pela reforma da língua portuguesa em cultivar e manter viva sua cultura. Resultado: uma reforma que interessa a bem poucos e mexe na vida de muitos. A reforma atinge 0,5% das palavras da língua portuguesa no Brasil, no entanto o que parece pouco, tem um significado de amordaçar mais uma vez a liberdade das culturas africanas, asiáticas e latinas onde se fala o português com sotaque e estilos próprios de cada lugar. Muitos argumentos surgiram na mídia neste contexto, mas nem um deles é capaz de fomentar no povo brasileiro a razão de se modificar o registro escrito de certas palavras. Para um país recordista em analfabetismo a reforma é uma incógnita para milhares de pessoas. Uma outra reforma ainda mais relevante já vem sendo feita nos diversos cantos desse país e das outras nações. Mas o oficialismo, essa ferramenta de brutalidade ideológica, há muito fez com que cidadãos de uma gramática simples se culpassem por sua maneira de falar. E o que fazer com a reforma surgida nos sites de relacionamento? Há alguma resposta para essa modificação da escrita? Assim, existem perguntas que ficam no ar. E o pior unificar nossa maneira de escrever é, nesse caso, silenciar outras vozes. A língua tem que se adequar a cada cultura que a pratica, não o contrário.

Lucas Magalhães é estudante de Jornalismo na UNIS e estagiário da EPTV Sul de Minas, afiliada da Rede Globo, em Varginha – MG.

Este artigo foi publicado originalmente na revista semestral CS Magazine, em dezembro de 2009.

A Dança do Quadrado e a Sociedade Pós Moderna

Mais um artigo enviado pelo caríssimo amigo Lucas Magalhães, o Magá.
Dessa vez ele discorre sobre o paradoxo do individualismo cultural,
ou a multicultura individual. Fala também da falta de valores 
comuns da atual sociedade, afinal “o poder de decidir
nunca esteve tão nas mãos de cada um de nós.”
Só para lembrar, o Magá agora tem um blog próprio, o
Vilarejo de Macondo.

O que é a verdade? O que é o bem? E o mal? É perturbador reconhecer que não temos respostas prontas para essas questões, no entanto é compreensível não tê-las. São reflexos de um tempo que pensadores como Frederich Nieztche, Martin Heidegger e Jean Paul Sartre batizaram de sociedade pós-moderna.

Entre outras características da época em que vivemos, está  a falta de exemplos, de líderes ideológicos. Hoje cada um pode ter sua própria ideologia, ou seguir muitas ideologias  e ser respeitado por isso. É o tempo das minorias. Por que a sociedade está fragmentada e por vezes sem rumo. Não cabe para os parâmetros de hoje valores absolutos, definições completas e certeiras do que seja a verdade, ou o bem, ou o mal. Não há pureza para esses conceitos. O homem, hoje, é o parâmetro si mesmo.

Líderes como Che Guevara, Karl Mark, Martin Luther King, Carlos Prestes, Renato Russo, Cazuza, Paulo Freire ficaram no que sobrou da modernidade. Atualmente no mesmo iPod, mp4 ou mp3 players convivem tranquilamente Bob Dylan e grupo Soweto. É tranqüilo de se admitir, atualmente, que um cidadão admire o Dalai Lama, comungue na missa de domingo e leia Deepak Choopra.

Não há caminho seguro, na pós-modernidade, o desafio é fazê-lo. Não há ninguém para dizer o que seja certo e errado. Como já profetizava Raul Seixas, “ói, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral”. Os conceitos se fundem. E surge o que mais pode amedrontar um ser humano na pós-modernidade: o poder de decidir nunca esteve tão na mão de cada um de nós. Decidimos o que é o bem, decidimos o que é o mal. Estamos entregues à nossa própria responsabilidade e isso, é de fato, algo com que o homem nunca esteve acostumado a lidar. É a cultura do depende. Depende como fazemos, como entendemos, como vivemos cada uma das situações de nossas vidas que nos exigem tomar posições.  

Assim, as pessoas têm visto menos pontos em comum uns com os outros, têm se identificado menos com grupos, as tribos têm se esvaziado. Por que a cobrança de andar nesta ou naquela companhia deixou de ser uma condição para ser aceito. É admissível que uma mesma pessoa freqüente shows de rock, ande de terno, faça musculação e freqüente micaretas. Ninguém é de ninguém, são todos de todos e ao mesmo tempo, de ninguém. Assim, os relacionamentos cada vez mais superficiais, e ai de quem discorde que isso seja aceitável. Daí uma completa desorientação e descomprometimento de uma geração que não tem a menor idéia para onde vai. E que não obstante se fecha em guetos cada vez mais reduzidos.

Em outra palavras é a sociedade do ‘cada um no seu quadrado’ … e olhe lá quem ousar achar ruim do meu quadrado meio diferente!…

Lucas Magalhães é estudante de Jornalismo e estagiário no Diário Correio do Sul

Qualquer Coisa Universitária

O artigo a seguir foi escrito por um grande amigo meu, Lucas Magalhães, estudante de jornalismo em Varginha, e expõe bem o momento de modismo vulgar (como todo modismo) pelo qual passamos: uma difusão da “contra-cultura universitária”, com suas músicas baratas, seu consumismo desordenado e sua filosofia do “beber, cair, levantar”.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apenas 5% da população do país chega às carteiras do ensino superior. O que parece pouco, na verdade é irrisório se comparadas aos números de países desenvolvidos. No entanto de olho num público de aproximadamente 8,3 milhões de pessoas o mercado de consumo lançou a ‘moda universitária’ especialmente na indústria do entretenimento. Desta forma tudo virou universitário, os pagodes, os churrascos, o axé, o sertanejo, as quintas, as sextas, os sábados. Só para exemplificar, nada difere o axé de Daniela Mercury e Chiclete com Banana, muito bom por sinal, do inicio da década de 90 e o que se toca agora nas micaretas que surgiram pelo país, mas o que percebo é que se coloca na propaganda qualquer coisa universitária o caixa registra mais dinheiro na entrada.

Em Varginha os comerciantes aguardam com ansiedade o dia quatro de agosto, data de volta às aulas nas instituições de ensino superior da cidade. Tudo por que a movimentação financeira é significativa entre estes estudantes. Tudo por conta do status que se vinculou ao fato de se estar estudando no terceiro grau. Ser universitário, agora é a onda da vez, é alvo do mercado de consumo.

E o escasso dinheiro da maioria desses estudantes que dependem da ajuda da família para continuarem seus estudos se esvai, aproveitando o fato da empolgação de se estar fora de casa, e do pouco senso de controle financeiro que temos. Aliás, os universitários estão em disputa. Como somos considerados bons consumidores de álcool ficamos no meio da queda de braços entre governo e mercado. De um lado a lei seca 11 705 que restringe o uso de bebidas alcoólicas e direção, aliada a tentativa da proibição da propaganda de cervejas e outras bebidas alcoólicas, por outro, a consolidação da cultura do ‘beber, cair e levantar’. O mais interessante é que numa dessas apenas cumprimos o beber e o cair, o levantar fica por conta, na melhor das hipóteses, dos colegas de balada. E na pior delas, pelo corpo de bombeiros. É um paradoxo, conceitos conflitantes, tendo como cenário o interesse financeiro. E claro nos tornamos marionetes movidas à diversão na mão dos empresários, dos donos de cervejarias, das bancas de CDs piratas, das casas noturnas que cobram absurdos para colocar luzes piscando e música eletrônica. Ao passo que estas casas se enchem, o que não é bem um problema, nossas cabeças se esvaziam de conhecimento, ficamos cada período menos preocupados com a qualidade de ensino que se oferece nas universidades da cidade. Por isso deveriam criar a moda do ‘ensino universitário’, pelo menos quem sabe conseguiríamos aprender um pouco mais.  Opá!  Mas isso já existe! Ou não?

Lucas Magalhães é estudante de Jornalismo na UNIS e estagiário do Jornal Correio do Sul, em Varginha – MG

Texto publicado Originalmente no Diário Correio do Sul em 28 de julho de 2008