Existem escolhas certas? É possível saber, já no primeiro passo, qual o melhor caminho a ser tomado? A estrada de mão única do Tempo não nos permite perceber quais escolhas são certas ou quais são erradas. Mas e se fosse possível testar os caminhos antes de tomá-los definitivamente? Andar um pouco e voltar novamente ao início… Será que a vida seria melhor se pudéssemos manipular as ações tomadas no decorrer do tempo? Diz a Teoria do Caos (que explica o funcionamento de alguns sistemas físicos e matemáticos) que “algo tão pequeno como o rufar das asas de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo”. É o fenômeno chamado “efeito borboleta”. Assustador, não? Mas em outras palavras, quer dizer que uma pequena ação hoje pode ter conseqüências gigantescas no futuro. Então será que realmente vale a pena testar esses caminhos?
Pergunte tudo isso a um físico ou um filósofo, talvez eles saibam responder. Ou então assista a Efeito Borboleta (The Butterfly Effect, EUA, 2004), que trata exatamente sobre esse tema: as conseqüências de pequenos atos tomados no decorrer da vida. Claro que o filme não resolve esse problema, porém ilustra bem o que nos poderia acontecer se pudéssemos manipular o Tempo.
Tudo começa com Evan (Ashton Kutcher) invadindo uma sala, se trancando lá dentro e escrevendo uma carta derradeira onde diz ser aquela sua última chance. Caso algo desse errado ele então estaria morto. Daí o filme salta 13 anos no passado, quando Evan tinha 7 anos de idade, e discorre por alguns momentos de sua infância e adolescência, até chegar novamente à juventude e voltar a Kutcher.
Apesar de ter Ashton Kutcher no papel principal, o que acende alguns preconceitos, afinal Kutcher é figurinha carimbada em comédias de segunda classe e besteiróis americanos, Efeito Borboleta é um filme sério, com um roteiro criativo e bem fechado.
Até onde o filme nos mostra, Evan é um bom garoto, preocupado com os amigos e com a mãe, porém carente do pai, Jason (Callum Keith Rennie), que está internado em um manicômio. À parte essas questões, Evan tem um problema sério: lapsos de memória, o mesmo problema que enlouqueceu seu pai. A qualquer momento, independente da situação, a memória do garoto apaga, deixando uma lacuna de alguns minutos em suas lembranças. Recomendado por um médico, Evan começa a escrever diários para treinar sua memória. E só mais tarde, já na faculdade, estudando Psicologia, por acidente, o maduro Evan descobre poder acessar, através dos diários, suas antigas memórias perdidas. E não só, consegue também voltar sua consciência no passado e até mesmo modificar antigos fatos de sua vida. Em outras palavras, Evan descobre ser capaz de voltar no tempo!
A partir daí ele resolve consertar todos os erros do passado e fazer o máximo para melhorar a vida de seu grande amor, a vizinha Kayleigh (Amy Smart), que ele não via desde a infância. Entretanto, para sua surpresa, para cada pequeno ato que mudava em seu passado, um turbilhão de modificações acontecia em sua vida presente. A velha história do efeito borboleta citado acima. E a maior parte dessas mudanças não era nada boa.
Indo e vindo através de sua consciência, Evan nos ensina que o destino não existe. O sucesso ou a derrota estão nas mãos de cada um de nós e depende apenas de nossas próprias escolhas. É o Livre Arbítrio de cada ser. Além disso, Efeito Borboleta nos dá uma grande lição sobre o arrependimento: o que fizemos é conseqüência de nós mesmo, não pode ser mudado, mas pode ser vencido.
Repetindo a primeira pergunta deste texto: existem mesmo escolhas certas? Evan, ao fim de tudo, descobre que sim: a escolha certa é não interferir e deixar que o tempo conserte os erros passados de cada um.