A biografia idólatra de Silvio Santos

silvio-santosUma coluna social de quase 300 páginas. Assim pode ser definida a nova biografia de Silvio Santos, escrita pelas então estreantes Márcia Batista e Anna Andrade. Publicada em 2017 pela Universo dos Livros, a obra é um compilado de histórias rasas, escritas em um estilo amador e que não trazem nada de novo sobre a vida do comunicador – além de muito, mas muito puxassaquismo.

Ainda que Silvio e sua família tenham uma vida discreta fora dos palcos, o que se espera de uma biografia é que o texto traga informações íntimas, memórias do protagonista ou, no mínimo, uma cronologia detalhada dos fatos públicos, contextualizados de alguma maneira. A obra de Márcia e Anna, no entanto, passam longe desse formato e, do Silvio em si, traz muito pouco. O material é dedicado muito mais à história do SBT e do Grupo Silvio Santos que ao apresentador e sua personalidade.

O livro é iniciado com um fato marcante na vida do comunicador. Talvez com a intenção de prender a atenção do leitor logo no primeiro instante, as autoras dedicam o primeiro capítulo ao sequestro de uma das filhas de Silvio, Patrícia Abravanel, e o posterior cativeiro de toda a família, ocorrido 2001. O texto, no entanto, segue supérfluo, sem trazer nenhuma novidade sobre o fato, apenas o que já havia sido difundido em jornais da época. E o que era para ser uma abertura chamativa acaba por se tornar o prelúdio do que viria pela frente: um apanhado de informações rasas, comprimidas e abarrotadas de julgamentos pessoais (todos exageradamente positivos), elogios rasgados e idolatria à figura do empresário.

A partir daí, o texto salta no passado e tenta narrar de forma cronológica a história de Silvio. O período entre as décadas de 1930 e 1950 são os mais interessantes da obra, trazendo ao público um pouco da infância e da adolescência do então jovem Senor Abravanel, suas influências e seus primeiros passos no mundo dos negócios. Mas nada aprofundado e tudo muito pouco contextualizado.

A partir dos anos 1950, a vida pessoal é deixada de lado e o texto envereda pela carreira profissional e, posteriormente, a estruturação e história das emissoras de televisão. A superficialidade chega ao cúmulo de condensar temas importantíssimos da carreira do comunicador em apenas poucas páginas. Assuntos ocorridos entre 1960 e 1975, como a formação do Baú da Felicidade, o primeiro programa de TV de Silvio, a criação do Programa Silvio Santos, o lançamento do Festival da Casa Própria e a fundação das primeiras empresas do Grupo Silvio Santos são resumidos em apenas oito páginas. Frisando: 15 anos da vida do maior comunicador do país são resumidos em apenas quatro folhas.

Ainda mais superficial é o tratamento dado a um dos fatos mais importantes da vida de Silvio: a crise financeira do Banco Panamericano, que quase o levou a falência em 2009. Todo o processo é resumido no livro em apenas dois parágrafos!

As autoras parecem considerar os 90 anos de vida do biografado como uma sucessão de fatos desimportantes pois, não bastasse comprimi-los, ainda fogem totalmente do título do livro e dedicam um capítulo inteiro à vida da cantora e apresentadora Hebe Camargo.

A superficialidade é apenas um dos problemas do livro. Outra grave questão é a qualidade do texto, recheado de maneirismos de linguagem e muitos elogios ao “patrão”. A primeira questão se entende facilmente, afinal foi o primeiro livro das autoras. Uma delas, Márcia Batista, assumiu o fato diante do próprio Silvio, no palco de seu programa dominical. Já os julgamentos de valor são tantos que tiram totalmente o prazer da leitura. Chega-se um ponto em que o leitor começa a se indagar se o livro é mesmo independente ou foi publicado a pedido da assessoria de comunicação do próprio Silvio Santos.

Ao narrar (em dois parágrafos) o processo de venda do Banco Panamericano, explicam que o Fundo Garantidor de Crédito assumiu a maior parte da dívida, por considerar que a recuperação da instituição seria um bem para o sistema financeiro nacional. Sem titubear, as autoras concluem dizendo: “afinal, para além de um banco importante para o Brasil, era o banco do Silvio Santos.”

Os elogios são tão constantes e descarados, que o próprio apresentador desdenha do conteúdo do livro em seu programa, agindo de forma abertamente cínica diante de uma das autoras: “Como você conseguiu tantas informações se você não falou nenhuma vez comigo? É bom o livro, mas só tem elogios.” E pra desespero da autora, fazendo referência a outra biografia, Silvio sentencia: “Esse aqui foi copiado do Arlindo Silva.”

Aos 90 anos de idade, o maior comunicador da história do Brasil merece mais que simples colunismo social.

Ficha técnica:

Título: Silvio Santos – A Biografia
Autores: Marcia Batista e Anna Medeiros
País: Brasil
Ano: 2017

Somos Tão Jovens – A mitografia de Renato Russo

Somos tão jovensÉ preciso entender que Somos Tão Jovens (Brasil, 2013) não é um filme biográfico, mas mitográfico. O roteiro de Marcos Bernstein não trata Renato Russo como pessoa, mas como ídolo, como mito. Está ali o cantor-herói, erudito e tão imerso em suas próprias composições. Estão ali também todas as lendárias histórias do rock brasiliense, os personagens marcantes e as famosas canções. Enfim, o filme do diretor Antônio Carlos Fontoura não trás nenhuma novidade e é tão leve quantos seus longas anteriores.

A história inicia-se com uma rápida passagem pela epifisiólise de Renato Russo, a doença que, aos 15 anos de idade, o deixou acamado por seis meses e outros doze com dificuldades para andar. E daí conta toda a trajetória do jovem, sua paixão por música, sua conversão ao punk, as influências, os amigos, a formação do Aborto Elétrico, até chegar à famosa Legião Urbana.

Mesmo que o roteiro seja morno, o filme é cheio de pontos fortes e tem muito para ser apreciado. A começar pela ótima escolha de Thiago Mendonça para o papel principal. Ao representar Renato Russo, o ator convence até o fã mais crítico, tanto com seus trejeitos quanto com sua voz ao cantar. A abertura do filme, aliás, chega a confundir o expectador: afinal de contas, quem está cantando? Renato ou Thiago?

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Outros atores também estão excelentes em seus papéis. Laila Zaid ajuda a conduzir o filme todo e é capaz de salvar muitas cenas, apenas por estar presente. Edu Moraes, apesar de parecer um pouco caricato, incorpora com maestria a personalidade do músico Hebert Viana e imita sua voz com perfeição. A família Manfredini também está impecável, com destaque para a lindíssima Bianca Comparato, que faz uma divertida interpretação de Carmem Teresa, a irmã de Renato. Mas o restante do elenco, apesar de muito bem caracterizados e fisicamente parecidos com seus originais, faz feio a maior parte do filme, com interpretações fracas e caricatas.

A caracterização, aliás, é uma das maiores qualidades de Somos Tão Jovens. É muito fácil reconhecer no elenco a identidade dos personagens reais, em parte pelo trabalho de maquiagem e figurino, em parte pelas tomadas muito bem escolhidas.

Alguns fortes contraste entre luz e sombra e a câmera em constante movimento compõem ótimas sequências de drama. De um modo geral, a Fotografia criada pelo estreante Alexandre Ermel ajuda a enriquecer o longa, situá-lo em sua época (o início da década de 1980) e compor sua história.

O único e maior problema do longa fica mesmo por conta do péssimo roteiro. O experiente Marcos Bernstein – roteirista de Chico Xavier, o tocante O outro Lado da Rua e o premiadíssimo Central do Brasil – erra mão ao manter nivelada a história de Somos Tão Jovens. Não há um ápice no roteiro, as pequenas tramas não se fecham em seu decorrer, não há curva dramática e sequer há um final. O filme termina em aberto, apenas com um letreiro na tela, discorrendo sobre o futuro da Legião Urbana.

Somos tão Jovens3Os diálogos criados por Bernstein não ficam naturais na boca dos personagens e, devido a isso, a vida de Renato Russo parece se tornar artificial. Apesar da brilhante atuação de Thiago Mendonça, aquele não é o Renato homem, mas o cantor mito, que dialoga através de versos, que usa de sua poesia para conversar no dia-a-dia e que se apresenta sempre (e sem dúvidas) como o grande astro que será no futuro – como se já fosse um rock-star desde a mais tenra infância.

Os dramas pessoais são quase totalmente deixados de lado e dão lugar à explicações ilógicas sobre a composição de suas músicas, tentando contextualizar cada um de seus versos mais famosos. Enquanto na cinebiografia de Cazuza, sua música era usada como complemento para o filme, em Somos Tão Jovens, o filme é usado como complemento para as canções.

A homossexualidade de Renato é apresentada de forma quase lúdica e muito pouco explorada. As drogas e o alcoolismo apenas pincelados. Renato Russo, o lendário rock-star, está ali presente, como sempre fora apresentado pela mídia, mas Renato Manfredini Júnior, o homem por detrás do mito, com sua mente conturbada, suas tendências depressivas e sua intimidade, não está presente neste longa. É mais fácil encontrá-lo em sua própria poesia.

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O Robin Hood da Colônia

Cartaz do filme Ned Kelly (2003)

Assisti neste mês, pela segunda vez (a primeira eu assisti em VHS há muito tempo atrás), a co-produção anglo-franco-australiana, do diretor Gregor Jordan que conta de maneira fiel e indiscutivelmente bela a história de Ned Kelly, o Robin Hood da Austrália!

Todos já ouviram falar na famosa lenda de Robin Hood, o príncipe dos ladrões, o nobre que se tornou o mais procurado ladrão da inglaterra, roubando dos ricos para dar aos pobres. Realidade ou fantasia, sua história, que surgiu por volta do século XIII, ganhou várias versões em livros e filmes e o herói inglês ganhou fãs pelo mundo inteiro. Entretanto no grande reino inglês do séc. XIX, que se estendia por vários continentes mundo afora, existiu um outro ladrão menos conhecido e menos nobre, porém não menos heróico e injustiçado. Seu nome era Edward Kelly, ou, como ficou conhecido, Ned Kelly!

Ned Kelly

O filme já começa com Ned sendo acusado e condenado injustamente por roubo de cavalos e logo salta para momento em que ele está saindo da prisão, após 3 anos de confinamento. E daí em diante discorre por toda vida do herói, sua família e seu bando, entremeado por belíssimas cenas da paisagem australiana. Sem contar a excelente atuação do já saudoso Heath Ledger, que parece não ter sido escolhido apenas pelo talento, mas também por ser bem parecido fisicamente com Ned.

Para quem não conhece a história, Ned nasceu na Austrália, então uma grande colônia penal inglesa, em meados da década de 1850. Descendente de irlandeses e filho de um fora-da-lei, desde pequeno foi perseguido pela polícia local, que queria apenas encontrar um culpado para qualquer delito que acontecesse. Não importava o delito ou o local, sempre que as autoridades coloniais precisavam acusar alguém, eram os irlandeses ou seus descendentes os escolhidos como culpados.

Ledger e Orlando Bloom

Robin Hood era um nobre inglês. Ned Kelly era apenas um camponês colonial. No entanto ambos foram injustamente acusados e perseguidos pelas autoridades e se tornaram grandes foras-da-lei, formaram um grande bando e passaram a ser temidos pelos poderosos e adorados pelos pobres! Assim como Hood, Ned passou a viver escondido com seu bando em florestas e cometendo assaltos aqui e ali.

Porém não é necessário conhecer sua história para se comover com o filme. O roteiro consegue fazer com que o espectador creia nos atos do personagem e em suas convicções e ideais. É possível se importar e temer pela vida do protragonista tão bem interpretado, principalmente nos momentos mais dramáticos.

Heath Ledger como Ned Kelly

Um ponto forte do longa é que ele foge daquele padrão hollywoodiano no qual deve sempre haver uma historinha de amor. Em momento algum o filme é um romance. Está sempre focado nas artimanhas de Ned e seu bando e na falta de excrúpulos da polícia colinial vitoriana.

Um filme que vale a pena ser visto e revisto e uma história que merece ser conhecida e difundida mundo afora, tal qual a Robin Hood.

Curiosidade: a lenda de Ned Kelly rendeu pelo menos 6 longa metragens. O mais famoso deles, de 1970, tinha o cantor Mick Jagger no papel principa.

Ficha Tecnica:

Direção: Gregor Jordan
Elenco: Heath Ledger, Naomi Watts, Orlando Bloom
País: Inglaterra, França, Austrália
Ano: 2003

Hitchcock

O que se encontra abaixo é um trecho de um trabalho acadêmico feito pelo meu grupo da faculdade no decorrer do segundo período, em 2007. O capítulo aqui publicado foi o que coube a mim elaborar. O trabalho completo possui 34 páginas, 10 capítulos e 17 referências. Muito provavelmente, se tudo der certo, será apresentado e publicado no Congresso Científico Metodista 2008.

Senhoras e senhores, eu vos apresento a “Infância e Carreira de Alfred Hitchcock”, o mestre do Suspense:

 

Terceiro filho dos verdureiros William e Emma Hitchcock do East End londrino, Alfred Joseph Hitchcock nasceu em 13 de agosto de 1899. Mesmo não sendo filho único, Hitchcock, como era chamado, foi um garoto mimado até seus 15 anos, quando seu pai adoece e vem a falecer, fazendo-o apegar-se muito a mãe, que o incentivou freqüentar e se educar em rígidos colégios católicos.

No educandário St. Ignatius College, os bondosos padres jesuítas tinham o costume de contemplar os autores de pequenas indisciplinas com alentados castigos corporais. Mas o pior não era a palmatória, mas a faculdade concedida aos faltosos de escolherem o horário em que seriam punidos. Naturalmente, todos os meninos procuravam adiar o máximo possível o castigo: sutil maneira encontrada pelos discípulos de santo Inácio de agravar psicologicamente a condenação prometida.

Além do colégio, a educação familiar também era rigorosa. Quando menino de cinco ou seis anos, “após cometer um pequeno deslize, o pai ordenou-lhe que levasse uma carta a um delegado amigo seu. Após ler o conteúdo, o policial trancafiou Hitchcock numa cela, libertando-o alguns minutos depois, não sem antes explicar convenientemente: “Veja o que te pode acontecer se não for um bom menino.”. (ARAÚJO, 1984. p.11)

Hitchcock não era o que se poderia chamar de um homem esbelto; com relação às moças, sentia-se muito tímido, e, embora pudesse ser considerado inteligente, não era rápido de raciocínio. Estas características o tornavam-no alvo constante de piadas e brincadeiras. Como fuga para a educação severa e para a timidez, tornou-se, ainda na adolescência, um leitor fervoroso e freqüentador assíduo de teatros. Já crescido, passou a freqüentar os cinemas, cujo público, naquela época, era formado por jovens como ele.

Entre 1913 e 1920, época da primeira grande guerra, Hitchcock, que deixara os estudos aos 14 anos, tentou vários tipos de trabalho, até encontrar sua verdadeira vocação. Integrar-se, fazer de algum modo parte do mundo: pode-se dizer que esse foi um dos problemas do jovem Hitchcock, e o cinema mostrava ser nesse sentido o mediador ideal. Dessa forma, aos vinte anos, conseguiu seu primeiro emprego na filial britânica da produtora cinematográfica norte-americana Famous Players Lask. Ali encontrou um pouco dos métodos e da seriedade profissional que tanto admirava nos filmes de Hollywood, características que não encontrava no cinema inglês. No início, exercia várias funções: escrevia títulos e subtítulos, trabalhava como requisitador, projetava cenários, escrevia roteiros, selecionava atores e era assistente administrativo.

Foi numa filmagem que Hitchcock conheceu Alma Lucy Reville, que já trabalhava na indústria cinematográfica quando Alfred começou. Alma era considerada brilhante montadora e redatora, e todos esperavam que fizessem uma bela carreira como diretora. No entanto, Alfred e Alma se casaram, e ela passou a trabalhar apenas com o marido. Mais tarde, quando seu nome de solteira passou a aparecer nos créditos de filmes, ficou patente a importância do seu trabalho para Hitchcock. Em 1928 nasceu sua única filha, Patrícia Hitchcock, que teve sua carreira de atriz lançada pelo pai, chegando a participar de pequenos papeis em alguns de seus filmes e entre eles, Psicose.

Alfred passou por um período de aprendizado em Berlim, numa co-produção anglo-germânica, e seus dois primeiros filmes foram encenados parcialmente em Munique. O cinema alemão dos anos 1920 era um dos mais aclamados em todo o mundo. Uma lição que veio a aprender nos estúdios de Neuebabelsberg foi: quanto maior o domínio técnico do diretor sobre o filme, tanto maior o domínio que exerce sobre a fantasia. Enquanto trabalhava como assistente de Graham Cutts na produção de “The Blackguard”, ele conheceu F. W. Murnau que filmava, no set ao lado, nada menos que “A Última Gargalhada”. Já fascinado com a eficácia dos técnicos alemães, Alfred observou como Murnau distorcia absurdamente os cenários e ao final obtinha um resultado perfeitamente realista. “O que se vê no set não importa”, disse Murnau. “A única verdade que conta é o que aparece na tela”.

“Number Thirtheen” (1922), o primeiro filme produzido e dirigido por Hitchcock, não chegou a ser terminado. “Always Tell Your Wife” (1922) foi concluído pelo ator Seymour Hicks e por Hitchcock, porque o diretor original adoeceu. Por isso, é dito que o primeiro filme realmente dirigido por Alfred foi “The Pleasure Garden” (1925), onde ele usou a falsa perspectiva de Murnau, recurso que voltaria a servir-se muitas vezes no futuro. “The Pleasure Garden” não foi, a opinião é unânime, um filme brilhante. Mas dele Hitchcock pôde retirar preciosas lições, tal como o orçamento modesto, a carga de dirigir uma estrela hollywoodiana e contornar drásticas coincidências, como apreensões da alfândega italiana e um assalto.

Mais tarde, em 1927, Hitchcock produz “The Lodger”, o primeiro filme de suspense da história, inventando, assim, este que é talvez o único gênero essencialmente cinematográfico, dando início ao que seria na verdade o seu estilo de filmar.

O Fato de Alfred conhecer seu ofício a fundo e investigar cada minúcia da nova arte contribuiu para que ele se transformasse em um dos mais perfeitos técnicos do cinema. A passagem do cinema mudo para o falado, que determinou o fim da carreira de muita gente, foi enfrentada por ele sem dificuldades. Em pouco tempo já não era mais conhecido apenas na Inglaterra, e começavam a aparecer propostas de Hollywood. Finalmente Hitchcock resolveu aceitar uma dessas propostas e transformou-se num diretor de categoria internacional. E em 1955 naturalizou-se norte-americano.

Seus filmes respiravam sexo e violência, elementos sempre apresentados com elegância e refinamento. Poucos cineastas conseguiram dominar as técnicas do seu ofício para produzir os efeitos desejados na platéia como Hitchcock o fez durante toda a sua carreira. A atração entre seres do mesmo sexo o interessava, e isso pode ser visto em seus filmes. Surpreendentemente, seus personagens masculinos externam, amiúde, medo dos femininos. Quando tratam da relação entre gerações, sempre aparece uma mãe exercendo um poder central sobre o filho adulto. Com seus filmes, Hitchcock construiu um mundo único, e, apesar disso, não recebeu um Oscar – o maior prêmio de Hollywood – por nenhum deles. No final da carreira, em 1967, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood concedeu-lhe o Prêmio Irving Thalberg – um Oscar honorário – pelo conjunto de sua obra.

Mesmo depois de velho e respeitado por todos à sua volta, Hitchcock não se relacionava muito bem com as pessoas. Era um solitário cercado por uma equipe de trabalho confiável. Seus filmes eram a criação de um homem e pertenciam a um gênero único: o gênero Hitchcock.

Amor, morte, culpa humor, terror e, logicamente, suspense foram o “cardápio” que o Mestre servia de maneira genial, mesmo nos piores momentos da sua obra e da sua vida. Muitos tentaram copiá-lo, mas poucos conseguiram chegar perto da sua sutileza e genialidade. O mundo mudou e, logicamente, sua obra sofreu com as mudanças, em particular nos últimos 20 anos da sua vida. Mas, fazendo uma espécie de resumo, a “ferrugem do tempo” não conseguiu destruir uma das obras mais geniais da cultura do século XX.

Em 54 anos de atividade, Hitchcock fez 53 longas-metragens. Em maio de 1979 a produção de “The Short Night” foi interrompida e Hitchcock, pouco tempo depois, fechou seu escritório na Universal Pictures. Em 29 de abril de 1980, Sir Alfred Hitchcock morreu.

Algum tempo antes de sua morte propôs o epitáfio que gostaria de ver inscrito em seu túmulo: “Veja o que te pode acontecer, se você não for um bom menino.”