Novos Peixes, Antigas Correntes

Para um comunicador,
principalmente para quem trabalha com TV
e as grande mídias, este texto é perigoso.
Magá e eu estudamos nessa área,
no entanto certas verdades não podem ficar escondidas,
mesmo que nossas carreiras,
hoje, dependam delas.
Enfim, o texto abaixo é do Magá e,
mais uma vez, fala de indignação:

banner-assistencialismo

bolsa-familiaNo Brasil uma prática já conhecida, há muito na história, ganhou intensidade e conceitos novos. O enraizado assistencialismo. Ele se configura na reunião de atividades que visam prestar algum bem ou suprir alguma carência de quem se mostra socialmente necessitado.

Uma das características mais fortes do assistencialismo é prestar ajuda e sanar uma deficiência momentânea. Tal prática não tem a preocupação de criar meios para o auto- provimento da sociedade. Essa política social se difundiu pelo país especialmente durante o governo de Getúlio Vargas.

Não longe do estado, a prática invadiu também os meios de comunicação nacional e não são raros os casos de assistencialismo televisivo. Seus precursores são os famosos programas de auditório do início da década de oitenta que sobrevivem até hoje. Com o tempo o assistencialismo ganhou forma mais comercial na TV.

E os anos 90 viram no fenômeno dos reallity shows uma alternativa dos participantes ‘merecerem’ tal premiação. Esses não ficaram no tempo, bem com evoluíram, mas o assistencialismo buscou também outras formas de se firmar na telinha brasileira. Outros exemplos sempre vincularam prêmios em dinheiro em troca de audiência, como a reforma de carros velhos, a doação de casas novas, a reforma de casas antigas, tarde ou noites de luxo em lugares em que os premiados não teriam chances de ir.

Alguns fatores prendem tal audiência. Um, a esperança de modificar a condição em que essas pessoas vivem. Mesmo na classe média, o trabalhador que esgota suas forças nas indústrias, metalúrgicas e demais fábricas, nutre uma intenção de um dia reverter seu quadro de estresse e possíveis endividamentos. Ou em classes mais baixas como trabalhadores informais que lotam feiras livres nas cidades, praias, vendedores de porta em porta e desempregados que esporadicamente fazem algum serviço remunerado. Esse é o rebanho de uma TV que promete mudanças aos seus ‘escolhidos’.

O que realmente causa desconforto é ver a TV se utilizar dessa condiçãogugu desigual da sociedade brasileira com fins de audiência e, consequentemente, lucros. Se ganha muito dinheiro, hoje, em cima da pobreza e indignidade da imensa massa de brasileiros que não são contemplados por programas de TV. O estado também tem seus meios escusos ao assistencializar a sociedade. Fins eleitoreiros, claro. Manipuladores que visam uma submissão dos assistidos.

O assistencialismo televisivo, bem como o político é um sistema que fixa nas camadas populares a dependência e a submissão a quem as ajuda. Atrelada às dívidas de gratidão impagáveis, são conduzidos às urnas para eleições cada vez menos significativas. Talvez isso justifique em partes a manutenção no poder de peças como senador e ex-presidente Fernando Collor de Melo no poder, como o já falecido e não tão esquecido Antônio Carlos Magalhães e muitos, digo, muitos outros.

A desgastada frase “dar o peixe ao invés de ensinar a pescar” é simbólica desse problema. Dar é vincular, criar laços e esperar retorno de quem é ajudado. Ensinar é gratuito e sinal de evolução e autonomia.

Em 2008, completou-se 120 anos que a escravidão acabou, oficialmente, no país. Seu legado, como sabemos, é terrivelmente desastroso para o Brasil. Mas o preocupante é que a falta de um ensino concientizador entre nós, e uma estrutura televisa exploradora e despreocupada com a formação da consciência social, hoje nos dão outras correntes e outros alforjes, ou seja, os grilhões da dependência intelectual, e conseqüentemente econômica e social.

Enfim, resta a eterna e indignada pergunta: “Que país é este?”. Ou melhor, que país estamos formando?

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