Você sabe o que é PODCASTING?

ArtigosHey, você! Sim, você mesmo! Já ouviu algum podcast? Não? Mas pelo menos tem ideia do que se trata, não é? Também não? Então vamos deixar de preguiça e entender melhor o que é esta nova maravilha midiática.

Podcasting é uma recente forma de publicação e distribuição de produtos midiáticos pela internet, que podem ser áudios, vídeos, textos, fotos etc. Diferente do Broadcasting (a radiodifusão – onde um programa é transmitido de uma única fonte para muitos ouvintes/expectadores em massa) o Podcasting é um sistema bem mais personalizável.

Você pode assinar gratuitamente o feed de algum site ou blog que mais goste e, daí então, receber todas as novidades deste site diretamente no seu celular, MP3 player, tablet ou computador, automaticamente, sem você nunca mais precisar acessar aquele site ou ficar buscando pelo tema no Google.

É você quem escolhe a programação que quer acompanhar e o horário em que quer ouvir/assistir/ler aquele conteúdo.

Dentre as mídias distribuídas em Podcasting, a que mais tem se destacado é o podcast, um programa de áudio onde uma ou mais pessoas apresentam e debatem os mais variados temas. De arte e cultura à política e esportes, passando por filosofia, saúde, ciência, História… qualquer conteúdo pode virar assunto dentro de um podcast.

E o melhor: é extremamente democrático!

PodcastVocê não precisa de grandes equipamentos e rios de dinheiro. Basta um computador com acesso à internet, um microfone, um software de edição e muita, mas muita criatividade e jogo de cintura para atrair seus ouvintes!

Mas só por que é acessível e democrático, não pense que é algo amadorístico. Alguns programas distribuídos em podcasting ganharam ares de indústria cultural e hoje são produzidos com qualidade ímpar, superior a muitas rádios. Algumas pessoas realmente ganham suas vidas fazendo podcast e distribuindo na internet. E você deve estar se perguntando: “se já se tornou algo profissional, como foi que eu nunca ouvi falar disso antes?” Pergunta difícil, porque podcasts existem aos montes (cerca de 350 em todo o país) e alguns têm média de 300 mil ouvintes por episódio.

Quem acompanha o Covil já deve ter visto algum post sobre participações minhas em podcasts diversos. Isso é porque há quase dois anos eu entrei neste universo e me tornei integrante fixo da equipe do Telhacast – um portal totalmente dedicado à mídia podcast e ao podcasting de um modo geral, com textos didáticos sobre o assunto e, claro, muitos programas para você baixar e ouvir. Até o momento já gravamos 81 episódios do Telhacast!

O programa publicado esta semana, que conta com participação minha, foi um vasto debate, com pouco mais de 1h de duração, sobre o Caso Varginha e a ufologia brasileira de um modo geral. Para ouvir o programa inteiro, basta clicar neste link ou na imagem abaixo.

Caso-Varginha

A idéia deste post, entretanto, não é apenas fazer um jabá descarado do Telhacast, mas principalmente apresentar esta tão democrática mídia ao leitor do Covil. Claro que eu recomendo e muito os episódios do Telhacast, afinal eu faço parte da trupe e me orgulho muito disto. Porém existem tantos outros podcasts fantásticos espalhados pela podosfera brasileira e alguns merecem muito ser conhecidos e ouvidos. Abaixo, portanto, segue uma lista de alguns dos meus favoritos – uns sérios, outros extremamente divertidos. Escolha o estilo que mais lhe agrade, procure um tema que lhe interessa e ouça! Ouça todos e seja bem-vindo à podosfera!

  • NerdCast – É o maior e mais famoso podcast do país. Foi criado pelos dois nerds mais xiitas da internet, que possuem uma bagagem de cultura pop infinita e um humor pra lá de escrachado. Os programas, por mais variados que sejam (e realmente são, pois tratam desde super-heróis até investimento na bolsa de valores), são permeados de referência à cultura nerd e pop e recheados de bom-humor.
  • GeekVox – O GV não é muito diferente do NerdCast. Seus integrantes são animados e divertidos e fazem um programa voltado para o público jovem, também permeado de citações a cultura geek (que não é muito diferente da nerd) e abordando temas leves como profissões, sonhos, bebidas, jogos etc.
  • Na Porteira Cast – Assim como os dois citados acima, o NPC também apresenta seus temas em forma de debate, contando sempre com três ou mais participantes em cada episódio. No entanto este podcast trás uma linguagem diferente ao abordar seus assuntos sob uma visão interiorana, contando sempre com convidados que moram longe das capitais.
  • Enquadrando e Andando – Diferente dos demais já apresentados, o Enquadrando foca em um único assunto: o cinema! Todos os episódios deste podcast apresentam debates (às vezes leves, às vezes profundos) sobre filmes novos e antigos, sempre com bom-humor, dinâmica e vasto conhecimento.
  • Escriba Café – O Escriba foge totalmente à regra dos demais já citados. Em vez de apresentar seu conteúdo em um debate descontraído, seu autor desenvolve e narra um texto sobre determinado assunto, discorrendo fatos da História humana de maneira crítica e aprofundada e aproveitando do background para criar todo um ambiente sonoro, imergindo o ouvinte em sua narrativa. É, talvez, o mais conciso e sério podcast dentre os aqui citados, porém não possui periodicidade e, às vezes, demora meses até que um novo seja publicado – o que é lamentável.
  • Papo Lendário – É exatamente como diz seu nome: um bate-papo sobre lendas e mitos do presente e da antiguidade. Neste podcast se discute toda e qualquer mitologia do mundo, abordando deuses, seres fantásticos, histórias mitológicas, religiões e a influência de tudo isso na nossa cultura e na do mundo.
  • Palavra Chave Podcast – Este é um programa diferente também. Bem mais curto (com cerca de 20 minutos apenas), aborda fatos do cotidiano sob um viés psicológico. O autor é psicólogo e apresenta sozinho o seu programa, firmando seu monólogo sobre teses de psicologia. Infelizmente possui apenas quatro episódios até o momento e espero que tenham mais.
  • Papo Filosófico – Da mesma forma que o Palavra Chave, o Papo Filosófico também está parado e já não publica um episódio novo há um bom tempo. Entretanto vale muito a pena ouvir os que já estão lá. Apresentado por um filósofo, o PF propõe uma visão filosófica sobre seus temas, apresentados em forma de debate com convidados variados. Já falaram ali sobre carnaval, o programa Mais Médicos do Governo Federal, a Televisão etc. Espero que voltem logo a publicar algo novo.
  • Telhacast – Mesmo já tendo citado o Telhacast várias vezes no início deste texto, preciso incluí-lo também aqui na lista de recomendações. O carro chefe do Telha é seu podcast homônimo, porém há muito que se tornou um portal totalmente dedicado a esta mídia. Além de agregar outros podcasts independentes (como o Enquadrando e Andando, o NossoCast e o PlayerCast), ele ainda possui outros dois programas (Os Comentadores, que fala sobre podcasts em si, e o Po(d)ema, dedicado a narrativas poéticas dos próprio integrantes e também dos ouvintes). Além de tudo isso, o Telhacast ainda tem colunas e mais colunas com tutoriais, opiniões e recomendações para quem se interessa pelo sistema podcasting.

Como disse antes, estes são apenas aqueles que mais gosto e ouço com mais frequência. Existem centenas de podcasts diferentes e uma lista completa de todos eles você pode encontrar no site YouTuner.

Agora que já sabe o que são podcasting e podcast, vá ouvir e divirta-se!

“A Afinação do Mundo” – A Paisagem Sonora Pós-industrial

A resenha a seguir foi feita às pressas
para cumprimento de uma das matérias da faculdade.
Trate-se de apenas 1/4 do livro
de Schafer e a publico aqui apenas a título de curiosidade.

Resultado dos estudos do pedagogo e compositor canadense R. Murray Schafer, A Afinação do Mundo é um livro que trata da relação entre o homem e o ambiente sonoro que o envolve, cujo o próprio autor denominou “Paisagem Sonora”. A resenha que é aqui apresentada refere-se à segunda parte do livro, a qual contém um exame detalhado da paisagem sonora pós-industrial, a revolução elétrica e um ensaio sobre a relação da música com o ambiente sonoro do compositor.

No primeiro capítulo desta parte, o destaque vai para a Revolução Industrial e todo o montante de novos sons que se originaram dela, inundando os grandes centros urbanos com o que, mais tarde, foi chamado de poluição sonora. Schafer nos mostra como a nova gama de materiais (como o ferro fundido) e de fontes de energia (como o carvão e o vapor) mudaram amplamente a paisagem sonora das cidades, substituindo os sons das ferramentas manuais e veículos de madeira, da música operária e do canto dos pássaros pelos sons pesados do martelar contínuo das indústrias, pelo resfolegar e o silvo agudo das locomotivas, ou, mais tarde, pelo ronco forte dos motores a combustão e as buzinas dos trânsitos das grandes cidades. Começa-se aqui uma das críticas mais relevantes de Schafer: a relação do som com a qualidade de vida, pois, é dito no livro, que ainda na primeira fase da Revolução Industrial, muitos dos operários fabris passaram a sofrer de surdez.

Já no capítulo seguinte, referente à Revolução Elétrica, a crítica do autor se torna mais subjetiva, relacionando as capacidades tecnológicas de gravação e transmissão de sons a longas distâncias como algo depredatório. Dá-se a entender (pois nos são apresentados apenas esses tipos de exemplos) que o rádio, invadindo sem permissão nossa privacidade doméstica, com sua programação contínua, desprovida de silêncio, se tornou um vilão para os apreciadores dos sons e ruídos, naturais ou artificiais do ambiente. Ou mesmo um vilão para a própria música. Seria essa a esquizofonia cunhada pelo autor: o “empacotamento e estocagem do som e o afastamento dos sons de seus contextos originais.” Algo difícil de ser concebido hoje, 40 anos após a publicação do estudo, numa sociedade cada vez mais dependente e vivente dessas tecnologias.

R. Murray Schafer

R. Murray Schafer

Há ainda neste capítulo, uma seção inteiramente dedicada à Moozak, com citação, até mesmo, a um documento produzido pela UNESCO, em 1969, e que se diz contra esse suposto mau uso da música. Moozak, de acordo com o livro, é a redução da música a ruído de fundo, som ambiental, ou, simplesmente, a música para não ser ouvida. São as discretas músicas de elevadores e supermercados. O documento da UNESCO dizia que tais músicas eram uma “invasão à liberdade individual” e pede ao Comitê e às autoridades competentes, “medidas capazes de pôr fim a esse abuso”. Uma petição altamente conservadora e difícil de entender hoje em dia, afinal a tal Moozak ainda existe e, quando não relaxante, simplesmente nos passa despercebida e sem incômodos ao ouvinte, seja no elevador, no restaurante ou no mercadinho da esquina.

O terceiro e último capítulo desta segunda parte d’A Afinação do Mundo refere-se a essa mudança de percepção da música. Para os apreciadores de tal arte, este talvez seja o melhor capítulo do livro, afinal não só trata de canções e melodias, como também da história da música em si, citando nomes como os de Beethoven, Wagner, Weber etc, além de suas respectivas composições. Aqui o autor discorre da relação do músico com a atmosfera na qual este vivia, sugerindo em vários momentos quais seriam as inspirações de alguns deles, como os motivos para Haendel e Haydn descreverem tão bem a natureza em suas obras, enquanto Beethoven usava de elementos industriais em suas composições. Pena Schafer expor aqui suas idéias de uma maneira tão restritiva, o que dificulta bastante o entendimento de um leigo. Ao meu próprio exemplo, a única de suas considerações que compreendi se referia ao uso dos pássaros como um contraponto à brutalidade na ópera do Anel dos Nebelungos, de Wagner, a única das citadas que conheço com certa profundidade. Devido a isso, capítulo acaba por deixar certo grau de frustração no leitor desavisado.

Aliás, essa parece ser a conclusão de todo o livro, ou pelo menos desta segunda parte, pós-industrial, aqui referida: a frustração diante de um monólogo altamente restritivo. Sem contar muitas conclusões e acusações do autor, por vezes infelizes ou deliberadas. Como o fato de dizer que, “se o canhão não fizesse barulho, não seria usado na guerra”, como se apenas o som fosse capaz de intimidar. Ou o momento em que compara um carro a um ânus e ainda cita Freud, em contexto deslocado, como para dar mais importância à amalucada comparação. Ou ainda sua irritação ao contar que uma aeromoça interrompeu uma obra de Wagner para anunciar que os banheiros do avião estavam entupidos.

Apesar de parecer enfadonho e às vezes desequilibrado, o livro de R. Murray Schafer tem seu quê de pragmático, tentando resgatar o paraíso auditivo inicial do homem e propondo um programa sistemático de treinamento dos ouvidos para escutarem de maneira mais distinta os sons, em especial os do ambiente. E ainda expõe, mesmo que de maneira não muito clara, alternativas para que o homem contemporâneo – imerso em um mundo de sons e ruídos que muitas vezes passam despercebidos – não ensurdeça perante a parafernália sonora que ele mesmo criou.